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Quarta-feira, 22/4/2009 Poesia no Globo Rural Elisa Andrade Buzzo Uma verdadeira raridade na televisão brasileira. Uma reportagem rimada, repleta de poesia. Alguém viu e ouviu? Foi no dia 22 de março que essa mistura insólita chegou ao telespectador, na edição comemorativa de número 1500 do Globo Rural, informativo no ar há quase trinta anos na Rede Globo. Hoje "Bendito buriti" pode ser lida e vista na página do programa na internet. Se a rima acabou se tornando sinônimo de artificialidade e rebuscamento, talvez pelo desprestígio do parnasiano frente ao moderno, ela ainda é por vezes empregada na poesia contemporânea mais "séria", ou como elemento cômico. Mas não é que o improvável se uniu ― poesia rimada e texto jornalístico? Com texto do apresentador e repórter Nelson Araújo, essa reportagem falou sobre o buriti, palmeira típica do cerrado brasileiro. O assunto foi vasto, abarcando a especificidade de nossa palmeira mais abundante, até aspectos sociológicos e políticos. E mesmo literatura, já que "Do mesmo jeito que se finca como um monumento na vereda, buriti se estabelece também como referência na obra de Guimarães Rosa". Assim, Araújo sabe da responsabilidade que carrega nas mãos ao querer aproximar do jornalismo, a literatura: "É ousadia de nossa parte tratar em verso e prosa de um assunto que virou arte nas mãos de João Guimarães Rosa". Viajando pela linha do tempo na mesma página, vemos que essa busca por uma linguagem diferenciada e experimental na reportagem-televisiva remonta ao ano de 1991, quando Araújo produziu a matéria "O Pequinizeiro", também narrada em versos. É com delicadeza que o repórter emprega metáforas como "fontes murmurantes", "a raiz é um novelo embaraçado". Mesclando jornalismo com pitadas de linguagem poética, ele recolhe o melhor de dois mundos e mostra que é possível, sim, formar um só; e que no Globo Rural a reportagem em profundidade ainda respira: "Vereda anuncia o cerrado mas nomeou um encarregado pra ter propaganda de si é o vistoso monumento que com respeito eu apresento sua excelência, o buriti." Elisa Andrade Buzzo |
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