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Sexta-feira, 10/7/2009
Rodrigo de Souza Leão
Julio Daio Borges


A notícia da morte de Rodrigo de Souza Leão me chegou alguns dias atrasada. Mesmo assim me chocou. Até porque a principal entrevista que dei este ano — e que está no meu currículo neste momento — foi para o Rodrigo de Souza Leão.

Era perceptível que ele tinha problemas mentais. Bastava entrar no seu blog. E confirmar pelo seu último livro, Todos os cachorros são azuis. Aliás, ele me enviou autografado. E, embora eu não tenha gostado, vou guardar como uma relíquia agora.

Eu conheci muitos escritores problemáticos nestes meus anos de publisher na internet. E imagino o que a família e outras pessoas mais próximas devem ter passado. Genialidade e loucura não convivem apenas numa fronteira tênue, mas sim numa alternância de estados que pode destruir igualmente a vida de outras pessoas.

Eu não sei se o Rodrigo foi gênio, acho que não. Mas gostava das entrevistas que ele fazia com poetas, na internet. Me impressionou, principalmente, uma recente com o Horácio Costa, que eu conheci na Fliporto. Também pelo Horácio, claro, mas encontrei outras do Rodrigo e ele não parecia inocente como entrevistador.

Numa época pensei em entrevistar o próprio Rodrigo, perguntando, justamente, como era abordar poetas contemporâneos em entrevistas. Cheguei a mandar um e-mail, querendo conhecer seu trabalho, mas logo vi que oscilava muito em qualidade e, por força das demais obrigações, acabei desistindo da empreitada.

Um tempo depois, Rodrigo me enviou seu Cachorros Azuis. É um bom título, mas não consegui avançar muito na sua prosa poética. Fiquei sem graça de falar isso para ele, mas deve ter percebido... pela minha ausência de feedback. Eu gostaria que o livro fosse bom, porque ele merecia uma entrevista, mas lamentavelmente não me fisgou.

Pelo que li do Claudio Daniel, Rodrigo era um compulsivo — e eu conheci outros compulsivos na internet também. Como existem muitos canais para se publicar, o sujeito se distribui em dezenas de formatos, dispersando sua energia, e oscilando, na qualidade, assustadoramente. A internet talvez não seja mesmo a principal morada da serenidade.

Para terminar, lamento, ainda, que não tenha gostado tanto da entrevista que Rodrigo fez comigo (assim como gostei de outras, de épocas passadas). Não pelas perguntas em si, que eram OK, mas pelas minhas respostas — porque talvez eu não estivesse numa hora para falar de literatura, ou de aspectos "literários" do Digestivo. Mas fiz questão de lincar a entrevista no meu CV, e de indicar o nome do Rodrigo, porque era um entrevistador que eu admirava — e me sentia lisonjeado por fazer parte de seu "panteão"...

Agora, imagino que alguém deva recolher sua vasta (e desigual) produção, a fim de que possamos chegar a uma avaliação mais precisa da obra de Rodrigo de Souza Leão. Que eu saiba, é o primeiro poeta contemporâneo que morre. Talvez marcando o fim da inocência da Geração 90 (da literatura) e da Geração 00 (da internet). Rodrigo fez parte das duas, penso. Um personagem que, como tantas vezes, pode interessar mais que seu autor...

Para ir além
Rodrigo de Souza Leão no Jornal de Poesia

Julio Daio Borges
10/7/2009 às 12h57

 

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