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Quinta-feira, 23/1/2003
Cacá Diegues e os jornalistas
Julio Daio Borges

"São sete horas da manhã / Vejo o Cristo na janela (...)"

Confesso-me um ignorante em matéria de Cacá Diegues. Só vi os filmes a partir da década de 90, dos quais não gostei de nenhum, e não me lembro de ter visto Bye, bye, Brasil (1979) ou os demais filmes anteriores. Na verdade, dada essa minha ignorância congênita, eu nem deveria estar comentando cinema brasileiro. Mas estou. E eu não tinha nada para gostar de Cacá Diegues, mas gosto. Desde ontem.

Ontem, nós jornalistas (waaal, nunca pensei que fosse falar isso), assistimos a Deus é brasileiro, no Espaço Unibanco de Cinema. Como vocês podem perceber, gostei. É uma das mais belas declarações (plásticas) de amor ao Brasil. As locações partem da foz do rio São Francisco (AL), passam por Pernambuco e acabam no Jalapão (TO). Mas não era isso que eu queria contar. Estou me adiantando na minha nota... Se gostei ou não, agora não importa.

Logo em seguida, houve uma feijoada e uma coletiva. É interessante notar como os meus colegas jornalistas escondem o ouro. Por mais que o filme seja desbundante, ninguém sai da sala desbundando - e mesmo que saia, ninguém diz que foi realmente desbundante. A tática é dizer que foi "legal" - e apontar algumas falhas (para não passar por alienado). Depois, se o filme se revelar efetivamente desbundante, o sujeito diz que, passada aquela "primeira impressão", também achou a mesma coisa. O que não vale é declarar, logo de cara, sua admiração. "Vai que a crítica descobre que o filme é uma porcaria, e eu dou o maior fora", essa é a mentalidade do jornalista médio brasileiro.

Na coletiva, a mesma coisa. O ideal é não perguntar nada. Primeiro, para não falar bobagem e tomar uma chamada do(s) entrevistado(s) (acontece quando as perguntas são idiotas). Segundo, para guardar suas idéias para o final. Ou seja: não dividi-las com ninguém, muito menos com os colegas. "Vai que alguém rouba a minha idéia...", assim pensa também o periodista médio brasileiro.

Eu, como sou um novato na máfia, e acho que vou sempre ser, fiz tudo errado. Me desbundei na saída e, durante a coletiva, cumulei os entrevistados de perguntas. Entreguei o meu ouro e as minhas idéias, de bandeja. Agora já era.

Assim, se vocês lerem, nos jornais, nas revistas ou nos sites, algo sobre o roteiro que João Ubaldo Ribeiro detestou escrever, saibam que fui eu que perguntei. Se lerem também que Cacá Diegues ficou lisonjeado com a declaração de Paul Auster, mas que não enxerga muita ligação entre Bye, bye, Brasil e a Trilogia de Nova York, idem. Ou ainda, se toparem com a afirmação de que Diegues adoraria ver um novo filme de Arnaldo Jabor, mesma coisa. Por último, se se contar que ele ficou constrangido por ser, ao mesmo tempo, sogro do Pedro Bial e crítico do Big Brother, podem ter certeza de que fui eu que perguntei.

Enfim, tudo isso é uma bobagem, pura vaidade, mas eu quis, mesmo assim, publicar.

Julio Daio Borges
23/1/2003 às 08h23

 

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