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Quarta-feira, 29/1/2003
Aniversário
Julio Daio Borges

O aniversário é uma espécie de trégua, concedida pelo mundo ao aniversariante. Durante vinte e quatro horas, as pessoas te tratam com a maior indulgência - a mesma que você concede a si próprio nessa data. Ninguém vai te lembrar, por exemplo, que você tem marcas na face, que há contas a pagar atrasadas ou que o seu projeto de vida é um fracasso.

Durante o seu aniversário, as pessoas são obrigadas a pensar em você. Em alguma hora. Nem que seja contra a sua vontade. Ou então a mandar cumprimentos automáticos, mesmo sem pensar nada.

É o dia em que você tem de encarar a própria idade. Não tem como fugir. Aquele número está lá. Como uma realidade que se abre. E à qual você vai ter de se acostumar.

É também o dia de ficar sem graça. De não ter muito o que falar. De se sentir, incomodamente, o "centro das atenções". De se surpreender com as homenagens. E até de chorar.

O aniversário, no fundo, não é nada. (O dia em que você saiu da barriga da sua mãe? E daí? Grande coisa.) O aniversário é uma maneira de se estar com as pessoas. E de demonstrar coisas que, não se sabe bem por quê, só se demonstram nessas datas.

Julio Daio Borges
29/1/2003 às 14h40

 

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