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Quarta-feira, 16/3/2005 Entre a ordem e o caos Julio Daio Borges 1 - ter sempre água na cabeceira, antes de dormir; 2 - abrir a janela (lateral) do quarto (de dormir) e ouvir crianças brincando, ver as manhãs de céu azul desbotado cruzado por passarinhos; 3 - tomar café da manhã. Acompanhada; 4 - nas tardes de quinta, zapear pelos canais a cabo, encontrar invariavelmente o canal de filmes antigos e assisti-los com um gosto doce de riso de infância, fazendo guerra de pezinhos no sofá psicodélico; 5 - planejar sessões de DVD aos sábados, com mais riso, pipoca e refri. Discutir o filme e discordar de todo mundo só de pilhéria, só para ser do contra, rindo secretamente da indignação levantada e, depois, confessar, ou não, que foi tudo molecagem. Isso pode ser muito divertido nessas ocasiões; 6 - fazer comidinhas para as pessoas de quem gosto, ou, quando saio à rua, comprar pirulitos, docinhos, qualquer coisa assim só para fazer surpresa quando chegar a casa. Ou seja, trazer um gostinho de paraíso para a boca dos que quero bem; 7 - arrumar um jeito de ajustar receita e despesa ou de ganhar mais dinheiro e deixar de ser perdulária; 8 - ajudar a reclamar do calor seco só para ter o prazer de concordar com os outros (chego a ver até um meio sorriso, porque a concordância sempre leva a uma certa cumplicidade, ainda que na reclamação vazia), mesmo que o calor daqui me seja muito mais suportável que o que me fazia transpirar a borbotões em Blu e no RJ; 9 - acalmar meus ânimos, serenar minha alma e tirar de cada um só o que me pode dar, só o que gosto, maravilhar-me com isso e desprezar o que as pessoas têm de menos agradável como se fosse tudo criancice, birra tolinha de quem quer se afirmar meio mauzão, bandido de filme de faroeste com bigode postiço e pistola d' água (é difícil, mas gostoso, praticar tolerância); 10 - fazer da literatura, dos bichos e das pessoas que tenho no agora meus bons companheiros até o futuro, enquanto não durmo, enquanto espero o que não vem, enquanto espero as noitinhas de quarta-feira, enquanto espero outubro, tirando qualquer "tom de desespero", cultivando a harmonia, abrindo portas pra alegria. E só. Angie em La Renarde Flaneuse, que linca pra nós. Julio Daio Borges |
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