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Quinta-feira, 29/7/2010 Claudia Leitte, articulista... Fabio Silvestre Cardoso A certa altura de seu Tristes Trópicos, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss escreveu sobre sua estada junto aos Nhambiquaras. Há um trecho em que ele trata da questão da escritura. Claudia Leitte (com dois t's, é bom ressaltar) não é antropóloga, mas os leitores da Folha descobriram ontem que ela também tem a sua escritura, que aqui vamos chamar de estilo. Qual é o paralelo entre os dois? Levi-Strauss descobriu um pouco daquela sociedade a partir de seus escritos. Nós, os leitores da primeira década de 2000, podemos entender um pouco mais de Claudia Leitte. A cantora, que está em todos as mídias, agora arrisca seus palpites no "Tendências e Debates", seção da Folha de S.Paulo (o jornal do futuro) em que os autores discorrem sobre "diversas tendências do pensamento contemporâneo", como está no próprio cabeçalho da página A3. No passado, autores como Florestan Fernandes ocuparam esse espaço. Agora, ele é de uma cantora do mainstream, para dizer o mínimo. E sobre o que Claudia Leitte (com dois t's, lembrem-se) escreve? Ora, sobre "Internet, liberdade e responsabilidade". Ao que parece, veicularam a foto de Leitte (sim, leitor, é com dois t's mesmo) como se ela fosse a agenciadora de garotas de programa. Coisa grave, de fato. O que me chama a atenção, para além do fato de ela sugerir que a internet deva ser controlada "precisamos de uma legislação célere, capaz de responsabilizar e punir (...)" , é a escritura, o estilo e os argumentos de autoridade da cantora. Claudia Leitte (ah, os dois t's) faz uso de um vocabulário sofisticado "Mas é justo querer fazer de uma ilação uma verdade?"; de perguntas retóricas; e de uma citação final a José Saramago, o Nobel de Literatura: "Também vou aconselhá-lo [meu filho] a ler Saramago". E você, hein, leitor? Imaginando que Claudia Leitte só cantava: "eu só quero é beijar na boca"? Eu sei, eu sei: devem ser os dois t's... Fabio Silvestre Cardoso |
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