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Segunda-feira, 28/3/2005 Hiperlinkagens Julio Daio Borges Meus hábitos pessoais se tornaram uma maldita sucessão de links. Habituado por esta facilidade(?) oferecida pela internet, fazendo com que por vezes não consigamos de verdade nos concentrar em uma só matéria, texto, notícia jornalística oferecida por um site, ultimamente venho adquirindo o hábito de linkar as coisas mais prosaicas do meu cotidiano - e me mover pela casa conforme a necessidade de se "acessar" o material. Se em uma página eletrônica de cinema leio uma crítica desfavorável sobre um filme, lá rumo eu para outro site similar para comparar as resenhas, confrontar jornalistas, apontar detalhes comuns. (...) O texto na revista não me serve sozinho. É preciso ler a revista concorrente, comparar como os dois textos foram escritos. E é uma sucessão sem fim de correlações, "hiperlinkagens" que mais do que garantir aprofundamento acabam me enervando, enfiando-me numa barafunda de insatisfação, da busca do mais - o "mais" desnecessário no entanto, o "mais" obsessivo. Lendo o jornal enquanto ouvia música ([...] consegui colocar um CD do Nei Lisboa e ouvi-lo por inteiro...), li sobre um artista que provavelmente se apresentará em Porto Alegre. Eis que me recordo que no jornal da semana passada(!) havia um artigo qualquer sobre o mesmo artista. E lá fui eu na cesta de jornais antigos à cata de tal exemplar. Quando a coisa começou a caminhar por aí, me mostrando este encadeamento (...), à principio, muito sutil de conexão (como um daqueles programas ultra-sofisticados em que os sites de compras têm à sua disposição (...) produtos cujo paralelismo com seus gostos pessoais é fruto de uma série de informações acumuladas sobre os seus hábitos de consumo) optei por um instante de silêncio, um distanciamento mais que necessário de todas as coisas. E a contemplação do nada foi a grande salvação do meu dia. Alessandro Garcia, no Suburbana, que linca pra nós. Julio Daio Borges |
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