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Quinta-feira, 17/3/2011 Mini entrevista: Jo e Tuco Rafael Fernandes Jo e Tuco, voz e contrabaixo, lançaram no fim de 2010 o álbum Um Silêncio (com distribuição da Tratore). O CD convida o ouvinte ao resgate da audição atenta e tenta mostrar a importância do silêncio, das dinâmicas e da sutileza. Também tem músicas e arranjos bem elaborados. É um conceito quase rebelde se pensarmos no mundo da dispersão dos milhões de downloads de MP3, músicas cada vez mais simplórias, processadas e "gritadas". Além disso, traz participação de grandes músicos, como Swami Jr, Adriano Busko, Paulo Freire, Alexandre Ribeiro, Lea Freire, entre outros. A seguir, uma rápida entrevista com o duo sobre o novo trabalho. 1) No encarte de Um silêncio há uma afirmação de que o disco é uma manifestação "(...) pela delicadeza, pela qualidade de ouvir, pela paciência (...)". De fato, isso é perceptível desde o nome até a capa, passando pelo encarte, a sonoridade, o repertório e a presença dos amigos tocando. De onde veio a vontade para essa manifestação"? Jo - Penso que a intenção principal é usar a música, que é nosso meio artístico de expressão, como veículo de comunicação para aquilo que achamos precioso e necessário no mundo de hoje: a delicadeza, a qualidade de ouvir, etc. A arte, nesse caso, parece ser o melhor veículo, porque fala aos sentidos, comunica numa camada mais profunda do ser humano. 2) Os ouvintes estão, mesmo, cada vez mais dispersos e movidos pela "gritaria"? Jo - Consideramos que há uma carência de silêncio, de contemplação demorada das coisas. A aceleração da informação, da batida do compasso, da velocidade da internet tem provocado, ao nosso ver, uma certa dificuldade de ouvir. A si mesmo e aos outros. Tuco - E também a busca de um silêncio interno, que possibilita escutar direito. Achar um espaço vazio pra caber alguma coisa que nunca escutou ou sentiu. 3) Há algo que possa ser feito para reverter isso? Jo - Acho que o papel do artista nesse caso é fundamental. Se ele mergulhar sinceramente na sua própria condição humana e conseguir trazer e comunicar o que há de precioso e único nele, daí pode haver mudanças, talvez pequenas, mas muito significativas. Tuco - E também acreditar que ainda existem pessoas voltadas para essa desaceleração, que sentem a falta que isso faz. 4) Houve um período de dez anos entre o lançamento de "Você e eu" (2000), o primeiro disco da dupla, e este. Em que vocês mudaram musicalmente nesses anos? Em que evoluíram? E quais as principais diferenças entre os dois lançamentos? Jo - Evoluí como ser humano, com a maternidade e com o cuidado interno, espiritual, e a música vem junto com essa evolução. A diferença principal é a confiança de que quanto mais sinceridade houver, mais interessante será meu trabalho. Por isso esse novo álbum está muito mais autoral, mais livre, mais feliz. Tuco - Na música não tem como enganar, o produto do seu trabalho é o que você consegue ser como ser humano, é isso que passamos para o público, e, como a Jo falou, a nossa evolução vem da auto estima, da não concessão aos valores comerciais vigentes e a constante busca de conhecimento. 5) O disco foi produzido e lançado de forma independente. Quais as principais dificuldades que um artista independente enfrenta para lançar um disco no Brasil? Financiamento, distribuição, divulgação? O que precisa melhorar de estrutura para que os muitos músicos talentosos que temos aqui possam aparecer mais? Tuco - O Brasil atual é uma vergonha na saúde, na educação, na moralidade e na ética de seus dirigentes. A cultura de um povo se fundamenta nesses valores. Como vou falar que precisamos de mais interesse e apoio para nossas realizações artísticas? Acho que não preciso dizer mais nada. Temos que ir fazendo.. Jo - É preciso haver consumidores de cultura, e para que haja consumidores de cultura é preciso haver educação de qualidade, respeito pela educação e pelos educadores. Infelizmente vivemos o contrário no Brasil. O que acontece é que o artista independente tem investido em sua arte sem expectativa de retorno financeiro, ou ele tem tentado fazer com que ela caiba nos modelos de projetos que interessam às empresas que são patrocinadoras de arte. Rafael Fernandes |
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