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Quarta-feira, 23/3/2011
Crowdfunding funciona, sim
Yuri Vieira

Após publicar o post "Financiando projetos criativos", recebi alguns e-mails afirmando que a ideia de conseguir financiamento para um projeto artístico-cultural "via internet" não passava de uma quimera. Num desses fóruns de discussões da vida virtual, ao sugerir o Catarse como alternativa às leis de incentivo, fui tratado como um belo exemplar de nefelibata e de "neoliberal". (Bocejo...) Disseram que talvez até funcione para "coiselhas" (as deles devem ser muito grandes e importantes), mas não para projetos maiores, como se o Kickstarter não tivesse ajudado o projeto TikTok a levantar U$ 941.718,00. (Sim, dólares, baby.) E é apenas o começo.

Ora, a mentalidade paternalista, essa que ainda vê o Estado como panaceia para todos os nossos problemas, parece não notar que o dinheiro das leis de incentivo é arrecadado, através de impostos, de elementos da própria sociedade. Se a internet aparece como um atalho entre os diferentes agentes deste cenário, ¿para que continuar esse, desculpe, beija-bunda de intermediários burocratas? Seria mais ou menos a mesma coisa se eu, enquanto escritor, chorasse o declínio da intermediação das editoras para chegar ao meu pequeno público leitor: meus e-books são baixados e/ou comprados todos os dias na internet. Agora, pior mesmo é perceber que ainda há aqueles que se acostumaram a socializar o investimento — usam verba pública para bancar seus projetos — mas privatizam os lucros: ficam com tudo que o projeto gera, considerando o próprio evento cultural (ou artístico) como a parte que cabe à sociedade, onde, no fundo, estão os verdadeiros investidores. Pode ser um procedimento legal — as leis de incentivo estão aí —, mas, na minha humilde opinião, é também imoral. É claro que essas considerações são válidas para muitos empresários espertalhões, desses que mamam no BNDES e quejandos governamentais, mas neste post quero me centrar na questão cultural. ¿Ou levaremos a piada de Stanislaw Ponte Preta a sério? "Ou restaura-se a moralidade, ou locupletemo-nos todos", escreveu ele. ¿Os erros de empresários e políticos corruptos justificam nossa imoralidade? (Alguns parecem achar que sim...)

Tudo isso foi apenas um preâmbulo para dizer que, em pouco mais de dois meses de existência, o Catarse já ajudou artistas e produtores culturais a arrecadar um total de R$70.462,00. Em termos de Brasil — onde poucos conseguem poupar devido exatamente aos impostos — isso me parece fantástico. Enfim, tire seu projeto da gaveta: o que você está esperando?

Yuri Vieira
23/3/2011 às 18h22

 

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