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Sexta-feira, 1/6/2012
Water Salles: On The Mico
Yuri Vieira

De Vincent Malausa, crítico do Cahiers du Cinéma:
Ao ouvir os aplausos que acompanharam a exibição à imprensa de "On the Road" no Festival de Cannes, a gente se pergunta por quais meios Walter Salles ainda conserva semelhante crédito diante do público e da crítica.

Sem fazer de novo aquela pergunta que vale para 90% da seleção de filmes deste ano ("Como isso pode estar aí?"), "On the Road", adaptação do romance mítico de Kerouac, é mais um tijolo acrescentado à hipótese em construção, cada vez mais plausível, de que este festival de 2012 será lembrado como um dos mais deprimentes em termos de qualidade.

Antes de tudo, é preciso lembrar que desde o triunfo mundial de "Central do Brasil" (1998), Walter Salles não parou de nos decepcionar, perdendo-se entre falsos filmes de autor destinados aos circuitos dos festivais e curiosidades insípidas (incluindo o remake de um filme de terror japonês, "Dark Water"). O diretor, cavalgando entre a arte, o ensaio e Hollywood, está visivelmente desesperado para conservar um status cada vez mais usurpado.

Falta de respeito

Ao ver o que Salles fez do romance de Kerouac, uma única conclusão é possível: o diretor brasileiro é um sedutor astuto, mas de forma alguma um verdadeiro cineasta. Se a fotografia é tão bela, banhada duma sublime luz dourada, a completa ausência da perspectiva do realizador sobre a história de Kerouac - três amigos rompem seus laços em uma fuga frenética através da América - toca o ridículo.

Em 2h20 (nada menos), Walter Salles segue seu trio pelas estradas dos Estados Unidos, atravessando diferentes assuntos - sexo, drogas e a gênese do romance - de uma maneira tão mecânica que, após um quarto de hora, a gente sente que não há nada a esperar de "On the Road".

Pior, o puritanismo do cineasta faz com que mais da metade do filme seja uma questão de sequências picantes - os heróis compartilham a bela Marylou sempre que há uma oportunidade - ou de uso de drogas, tornando-os permanentemente reduzidos ao status de crianças em falta perto de serem punidas. Deste ponto de vista, a escolha dos atores (os jovens Garreth Edlund e Sam Riley) é uma catástrofe, convertendo a dimensão boêmia e libertária de Kerouac num conto sentimental digno de um suave e detalhado teen-movie.

Road movie sem fôlego

Walter Salles certamente possui ainda alguns recursos como ilustrador ou simples artesão (ele pode produzir imagens bonitas), mas ele permanece incapaz de dar a seus filmes qualquer sentimento vital. É divertido ver, por exemplo, como as referências a Proust parecem emprestadas, sob uma postura completamente esnobe e sem qualquer densidade poética.

O filme carece de fôlego, parece quase imóvel à medida que avança no vazio (estranho para um road-movie) e sofre por ter sido visto após uma das raras obras primas da seleção, o maravilhoso "Holy Motors" de Leos Carax, filme ardente de um romantismo inesperado, pop e crepuscular.

Voltaremos a esta obra-prima brilhante que, obviamente, não ajuda "On the Road" a se destacar nesta quinzena maçante. Pior ainda, a exibição na sexta-feira de outra obra prima do festival, "Cosmopolis" de David Cronenberg, coloca no meio de um sanduíche de grandes filmes esse pobre e pequeno filme inepto e de extensão aberrante. Walter Salles é realmente um dos cineastas mais sobrevalorizados da última década.
Vincent Malausa, Le Nouvel Observateur.

(Traduzido por Yuri Vieira)

Yuri Vieira
1/6/2012 às 18h06

 

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