Quinta-feira, 23/8/2012
G. Freyre: jornalismo e letras
Yuri Vieira
Trecho do artigo "Jornalismo e letras: serão incompatíveis?", de Gilberto Freyre:
Alguém me pergunta se não estou escrevendo demais para a imprensa. Alguém que desdenha da imprensa - diários, semanários, revistas ilustradas - e não vê com bons olhos a presença de indivíduos que pretendam ser principalmente escritores em publicações, a seu ver, de todo efêmeras. As formas nobres de um escritor exprimir-se seriam apenas - para êsse severo censor - através de livros e de ensaios em revistas de cultura.
Terá razão êsse meu crítico? Creio que não. Inteiramente, não. Como mestre Ortega y Gaset, não vejo incompatibilidade absoluta entre as duas atividades intelectuais: a de escritor e a de colaborador de jornais e revistas ilustradas. Podem até, em certos casos, completar-se. O intelectual pode, através dessa atividade dupla, alcançar dois tipos de público, igualmente merecedores de sua atenção: o que lê livros e revistas de culturas e o que lê jornais e revistas ilustradas.
Outra coisa não fêz, durante anos, na Inglaterra, Gilbert K. Chesterton. Antes dêle, foi o que fizeram, em Portugal, Eça, e no Brasil, Machado. Recentemente, foi a atividade, na França, através de artigos em jornais, de Mauriac e de Camus: cada um com sua orientação, ambos com notável repercussão. Cada um, com sua mensagem particular para o chamado grande público, que escrevesse melhores artigos de jornal.
O mesmo é certo da atividade que desenvolveu, nos Estados Unidos, Henry L. Mencken. Antes de diretor da admirável revista de cultura que tornou-se, nos seus grandes dias, The American Mercury, e autor da notável obra de erudição The American Language, foi êle um "colunista" cujos artigos publicados por vários jornais do seu país e da própria Inglaterra, fizeram época. E permitiram-lhe orientar, com idéias audaciosamente renovadoras, numeroso público.
Yuri Vieira
23/8/2012 às 21h11
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