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Terça-feira, 11/6/2013
Meneses & Lanzelotte
Eugenia Zerbini

Para alguém cujo pai era aficionado pelo cravo de Wanda Landowska, ir a um concerto em que figura esse instrumento evoca emoções. Não importando nem intérpretes nem programação. O importante é sentar na plateia e divagar, olhos colados no verdadeiro astro do palco: ele, o cravo. O da noite de 10 de junho, de teclado duplo, na cor British racing green, tinha frisos e frontão dourados.

Escapando do fascínio do cravo - assim como das memórias por ele trazidas - e de volta para a objetividade: o segundo concerto da série Musica de Câmara da Sociedade Cultura Artística (Sala Itaim), na noite de 10 de junho, foi dedicado à música barroca (Vivaldi e J.S. Bach), para cravo e violoncelo. A interpretação ficou a cargo, respectivamente, de Rosana Lanzelotte e Antonio Meneses, que contaram com a participação de Alberto Kanji, como segundo violoncelo.

Antonio Meneses é um dos mais renomados cellistas no cenário mundial. Iniciou os estudos de violoncelo aos 10 anos, cedo trocando o Brasil pela Europa, onde deu continuidade a sua formação musical na Alemanha. Jovem, venceu vários concursos internacionais. Na sequencia, apresentou-se acompanhado pelas mais afamadas orquestras. Também se dedica à música de câmera e integra o Trio Beaux Arts, desde 1998. Não fica atrás o brilho da carreira da cravista Rosana Lanzelotte, que se destaca, inclusive, pela promoção de diferentes ações culturais no país. Entre outras, idealizou o projeto "Musica nas Igrejas", no Rio de Janeiro; criou o site Musica Brasilis, o maior portal de música erudita brasileira; propagou a figura do músico e compositor austríaco S. Neukomm - que, de 1816 a 1821, viveu no Rio de Janeiro. Lanzelotte não apenas gravou suas composições como também escreveu sua biografia romanceada. And the last but not the least... Alberto Kanji, revelado pelo prêmio "Jovem Solista", aos quinze anos, e diplomado como solista pelo Conservatório de Amsterdam, não se intimidou em face de seus colegas de cena.

O curioso nesse concerto foi o testemunho da morte de um personagem que costumava frequentar o palco dos concertos: o virador de página. Rendeu até um bom romance, de autoria de David Leavitt, The page turner (entre nós O virador de páginas, Ars Editora, na excelente tradução do saudoso Sergio Viotti). Recostado no elegante cravo, um Ipad é que trazia a partitura da cravista, também doutora em informática. Como explicado, para virar a página ela se valia do sinal bluetooth emitido por um movimento no pedal. O que não diria o mestre François Couperin, o Grande (1668-1733), autor da bíblia dos cravistas,L´art de toucher le clavecin.




Eugenia Zerbini
11/6/2013 às 17h33

 

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