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Domingo, 3/11/2013
Combattimento em São Paulo
Eugenia Zerbini

O Combattimento Consort Amsterdam apresentou-se ontem na Sala São Paulo, como última atração da temporada de 2013 da Sociedade de Cultura Artística. Com muitos aplausos, bravos e extras! A formação, criada em 1982, pelo violinista Jan Willem de Vriend, dedica-se à música composta entre 1600 e 1830.

Na apresentação, três pontos altos: a interpretação do jovem cellista Thomas Carroll do adágio do concerto para violoncelo nš 1 em dó maior de Joseph Haydn(1732-1809); a suíte Les Boréades, do francês Jean Philippe Rameau (1683-1764) e a sinfonia nš 44 em mi menor, também daquele primeiro compositor austríaco, conhecida por "Fúnebre" ou "do Luto" (Trauer).Em outras palavras, destaque para a maior parte do programa.

De trás para frente: por coincidência (ou não), a sinfonia "Fúnebre" serviu de homenagem ao dia de Finados (2/11). Assim, levou o pensamento à humanidade que nos antecedeu e à lembrança de todos os compositores e intérpretes que "sur les balcons du ciel, en robes surannées" banham de luz nossas vidas até hoje (sobre os balcões do céu, em roupas fora de moda, Baudelaire, Flores do mal). Finalizada em 1772, a sinfonia "Fúnebre" deve seu nome ao fato de o compositor ter determinado que a mesma fosse tocada em seu funeral.

Já a suíte "Les Boréades"(ou os descendentes de Bóreas), é um conjunto de fragmentos da ópera de mesmo nome, composta por Rameau. O enredo baseia-se na mitologia e abre espaço no palco para a presença de uma deliciosa engenhoca: o eóliofone, mais popularmente, a "máquina de vento". A rainha da Báctria apaixona-se por Abaris. Todavia, tem que casar-se com um descendente de Bóreas, deus do vento norte. Para seguir os ditames de seu coração, a rainha abdica, mas, durante a cerimônia de casamento, é levada por uma ventania, que a conduz para junto de Bóreas e de seu filho. Abaris parte em seu encalço e desafia ambos para luta. Todavia, surge Apolo, que tudo esclarece, afirmando que Abaris é filho de uma ninfa que descende de Bóreas. Não há, por isso, obstáculo para o casamento. Ontem, a máquina de vento era uma estrutura de metal acobreado que girava, recoberta de pano. Os séculos XVII e XVIII admiraram esses truques de cena. Mas, não só eles. Recentemente, em apresentação de O navio fantasma, ópera de Richard Wagner, no Teatro da Paz, em Belém do Pará, lançou-se mão de um desses engenhos.

Rameau, nascido em Dijon - terra da mostarda e dos bons bourgognes -, foi concorrente musical de Jean Baptiste Lully, o favorito do rei Luis XIV. Este, além de cunhar o bordão "O Estado sou eu", notabilizou-se por seu gosto pelo espetáculo, principalmente pela dança (ele mesmo apreciava fazer demonstrações de seus passos para a corte). O compositor era octagenário quando começaram os ensaios de Les Boréades. A montagem era complicada, o teatro pegou fogo, Rameau faleceu, o certo é que apenas na década de 1960 essa ópera, em seus cinco atos, foi montada pela primeira vez.

A surpresa agradabilíssima ficou a cargo da substituição de solistas no concerto para violoncelo e orquestra de Haydn. Mesmo desconhecendo a substituída, aposto que o público ganhou: o galês Thomas Carroll, nome para se anotar. Foi emocionante escutá-lo tocar o adágio do concerto de Haydn. A continuação seguiu na recordação desse trecho.

De acordo com o programa distribuído, essas apresentações em São Paulo podem ser uma das derradeiras do Combattimento Consort Amsterdam contando com de Vriend como spalla e na direção artística do conjunto. A partir de 2014, após 32 anos à frente da formação, o músico irá dedicar-se à regência de orquestras. Que o Combattimento dê continuidade a suas atividades, não se afastando nem de sua vocação, nem de sua qualidade.

O Combattimento Consort Amsterdam apresenta-se na Sala São Paulo ainda uma vez, no dia 6 de novembro próximo, quarta-feira, às 21 hs, com o mesmo programa de ontem, encerrando com galhardia a temporada 2013 da Sociedade de Cultura Artística, cuja programação para 2014 já está disponível.

Concluindo, entreato, "Os ventos", da ópera Les Boreades, de J.P. Rameau (sem indicação de intérprete), onde se escuta a "máquina de vento".




Eugenia Zerbini
3/11/2013 às 19h52

 

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