|
Segunda-feira, 9/5/2005 O homem, o mar e o tempo Julio Daio Borges Um dia a gente foi com a família do seu Lisboa conhecer Itapuã. Tinha o coqueiral imenso, o areal, o farol bonito. Foi aquele encanto de gente de nível mais alto que desejava uma solidão à beira-mar. Tinha lá umas casas distantes umas das outras, uma vila de pescadores. Isso me fascinou de tal modo que eu aproveitava qualquer chance de ir a Itapuã. Ia a pé pela praia. Levava uma garrafa térmica com batida. Pra distrair.(...) Imagine que Itapuã foi crescendo e ficando famosa à base da propaganda que eu fazia no Rio. Com o tempo, foi se tornando um lugar que em dias de feriado quase que não se pode andar. Deram o meu nome à praça. Mais tarde, o governo mandou me avisar que ia ligar a praça ao aeroporto e que a avenida também ia se chamar Dorival Caymmi. Eu fiquei encantado, e então quis roubar a placa da rua. Mas, quando eu cheguei, alguém já tinha roubado... Minha música é de antes do movimento rotulado. Movimento de Caetano e Gil, a Tropicália, vem com título, então não é do meu tempo. Tinha a capoeira no meio, mas com influência das cantigas modernas, rock'n'roll, be bop. Não é tão baiano. Não é tão brasileiro. Ah, eu gosto do Chico Buarque... Um dia eu estava num hotel em São Paulo e encontrei o Ciro Monteiro. Ele me falou assim: "Sabe quem é aquele cara ali no balcão?" Era um rapazinho novo, garoto. O Ciro: "É o autor dessa música que está fazendo sucesso aí, 'Estava à toa na vida, o meu amor me chamou...'" Ah, eu fiquei encantando... Não pude falar com ele porque ele era meio fechadinho, estava tomando café no balcão. "Chico Buarque... É esse garoto, então?" Para encontrar Chico, eu esperei um tempão. De repente, via ele em algum lugar e dizia: "Oh, você por aqui, Chico! Onde é que você mora agora?" E ele: "Leblon, sei lá o quê". Em "Paratodos", que é uma jóia, ele teve um elogio pra mim. Disse: "Contra fel, moléstia, crime, use Dorival Caymmi". Obviamente Dorival Caymmi, no outro domingo, no Estadão. Julio Daio Borges |
|
|