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Quarta-feira, 17/9/2014
Maria Callas:La divina
Eugenia Zerbini

Ontem, dia 16 de setembro, completaram-se 37 anos da morte de Maria Callas (1923-1977). Ana Maria Sofia Cecília Kalogeropoulou, ou simplesmente "La Divina", nascida na Grécia, ganhou fama internacional, eternizando-se como uma das vozes mais expressivas do século XX. Com uma voz personalíssima, de uma sonoridade ímpar, paradoxalmente aveludada e rascante, "La Maria" tornou-se lenda na história do canto lírico. Interpretou seus personagens, dando-lhe textura dramática. Além disso, chamou a atenção do grande público para a ópera e definiu o que é ser uma diva, até hoje. Uma das mais sedutoras encantatrizes (termo forjado por Jean Starobinski, no livro de mesmo nome, sobre a história da ópera).

O maior erro de Callas talvez tenha sido querer viver fora dos palcos com a intensidade que conferiu às personagens que interpretou. Não se deu conta que, de uma certa forma, a ópera é a derrota das mulheres (A ópera ou a derrota das mulheres, de Cathérine Clément, Rocco, infelizmente esgotado). No palco, em La Traviata, de Verdi, Violeta Valéry, é humilhada, agoniza e morre por seu amor; Bellini faz com que sua Norma, a vestal dos druidas, traia seus votos pelo amor do proconsul romano (que fica em dúvida todo tempo se gosta dela ou de Adalgisa); Tosca, de Puccini, mata para salvar o amado, mas é enganada por sua vítima; as coisas não são diferentes em Carmen. Mesmo cantando que o amor é uma criança cigana, que desconhece as leis, ela é posta para morrer por Bizet, com uma faca fincada no ventre. Como nas touradas. A divina Maria doou sua voz para todas elas.

Fora dos palcos, depois não apenas de um casamento de conveniência com seu empresário, o comendador Giovanni Battista Meneghini (ela com 24, ele, 51 anos), mas também de perder 36 quilos, "La Divina" foi apresentada, por Elsa Maxwell - a bisbilhoteira de Hollywood -, a Aristóteles Onassis, uma das maiores fortunas do mundo. Apaixonou-se. Em 1959, aos 36 anos, descobriu o amor. Ao mesmo tempo, - como no conto infantil em que a pequena sereia entrega sua voz à bruxa - Maria começa a perceber os efeitos do superuso de seu instrumento. Irá sofrer quando Onassis a trocar pela viúva Kennedy, irá ficar feliz quando Aristo voltar para ela, porém, como dizem, toda mágica vem com seu preço.

Para celebrar a memória desse grande nome do bel canto, que, se viva, comemoraria 90 anos em dezembro do ano passado,Fernando Duarte preparou o texto de Callas, dirigido por Marília Pera e estreado por Claudia Ohana e Cássio Reis. Depois de uma temporada carioca, a peça estreou em São Paulo, no Teatro Itália, onde permanecerá até novembro. A ação se passa um dia antes da morte de "La Divina", durante a visita que Maria faz à exposição organizada em sua homenagem, em Paris. A situação dá ensejo a um desfile de cópias dos trajes usados pela cantora nas óperas que interpretou, projeção de fotos e curtos trechos de árias (curtos em demasia...). Marília Pera interpretou "La Maria" em Master Class, de Terence McNally, nos palcos brasileiros, em 1996. A caracterização foi tão perfeita que parecia sessão espírita, com Maria Callas ali, bem na frente, rememorando sua vida e sua carreira enquanto ministrava seu curso na Julliard School, em Nova York. Embora desta vez o texto de Callas não seja tão robusto como aquele nem a interpretação - ainda que correta - não tão assustadoramente boa como a de Marília Pera, a peça tem valor afetivo para os fãs da fenomenal artista que Maria Callas certamente foi e para os amantes do canto lírico.

Abaixo, Oh, mio babbino caro, ária da ópera Gianni Schicchi de Puccini, na interepretação da divina Maria Callas.




Eugenia Zerbini
17/9/2014 às 18h42

 

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