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Quinta-feira, 9/10/2014
Para quem compara PSDB e PT...
Julio Daio Borges

...em matéria de corrupção:

Quem não acompanha política, embaralha tudo em época de eleição.

Nem todos os políticos são corruptos. Nem todos os *partidos* são corruptos.

Quando vejo "comparações" entre PSDB e PT, a primeira coisa que me chama a atenção é a generalização apressada segundo a qual "ambos são igualmente corruptos".

Não são "igualmente" corruptos. O PT é *infinitamente* mais corrupto. Isso se o PSDB pode ser chamado de "corrupto".

Deixa eu te contar a história do Mensalão. O Mensalão ficou conhecido - e vai completar 10 anos -, mas muita gente ainda não entendeu direito o que foi o Mensalão.

Corrupção pontual existe. Lembremos Lord Acton: "O poder corrompe".

Outra coisa é corrupção sistêmica. De novo, Lord Acton: "O poder absoluto corrompe absolutamente".

O Mensalão não foi um "caso isolado" de corrupção. O Mensalão foi um *esquema* de compra de votos, no Congresso Nacional, garantindo aprovação a projetos do governo federal, durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

Se você já ouviu falar em Montesquieu, deve lembrar da teoria dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Compõem o famoso sistema de "freios e contrapesos" que garante o equilíbrio de forças entre quem governa, quem faz as leis e quem garante que as leis sejam respeitadas.

No sistema brasileiro, cuja constituição de 1988 privilegia o parlamentarismo, é fundamental que haja equilíbrio de forças entre governo e congresso. Para que, justamente, o governo não faça só o que bem entende (tirania ou, mais recentemente, ditadura).

Com o Mensalão, o PT corrompeu esse sistema. Não foi um episódio de corrupção isolado, repito. Como uma licitação fraudulenta, por exemplo: onde, para fazer uma obra pública, uma prestadora de serviços corrompe um representante do governo e "vence" a concorrência, pagando propina a esse agente do governo.

O Mensalão foi muito mais do que isso. O Mensalão foi uma *máquina* montada para compra - sistemática - de apoio do Congresso Nacional a projetos do primeiro governo do PT. Um esquema que foi denunciado em 2005, num mandato que havia começado em 2003.

O governo do PT não negociava mais apoio no congresso, como é normal acontecer. Ele *comprava*. Ele subornava parlamentares, da chamada "base aliada", com um "salário", uma *mensalidade* - um "mensalão" (até o nome é asqueroso).

Esse sistema de corrupção é muito mais sofisticado do que qualquer caso de corrupção de que se tenha notícia em toda a História do Brasil desde a Proclamação da República.

Dizem que PC Farias recebia porcentagens de todos os contratos fechados durante o governo Collor. Que ele era o "operador", digamos assim (como Marcos Valério).

Collor, vale lembrar, assumiu em 1990 e sofreu impeachment em 1992.

Por analogia, Lula merecia, no mínimo, um impeachment. Porque o Mensalão foi muito além de receber porcentagens em contratos governamentais, o Mensalão atentava contra as bases da República, onde o poder Executivo "comprava" o Legislativo, não em uma única votação mas sistematicamente.

Portanto, dizer que o PT "respeita" a democracia é, no mínimo, uma afirmação de quem não conhece a história recente. Um partido que, no governo, fez pouco caso do congresso, montando um sistema de compra sistemática de votos - desmoralizando-o no processo -, não tem vocação para o diálogo, passa por cima das leis e está muito mais próximo de uma ditadura do que de qualquer outro regime.

É de corrupção em nível institucional que estamos falando. É de um *partido* corrupto. Afinal, o presidente do partido, José Genoíno, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, para não falar de outras figuras menores, foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal. E por *formação de quadrilha*.

Não estamos falando de uma prefeitura em uma cidadezinha esquecida, onde o prefeito subornava seus vereadores. Estamos falando do governo federal. Estamos falando do Congresso Nacional. Estamos falando do partido do governo. E estamos falando do Supremo Tribunal Federal.

Estamos falando das mais altas esferas da República. Estamos falando - lamentavelmente - da nossa História. E estamos falando do Brasil.

Por mais incrível que possa parecer, quem desaconselhou o impeachment de Lula foi Fernando Henrique Cardoso. Numa reunião em sua casa, com o então ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos (o mesmo que, voltando a ser advogado, "defendeu" os réus do Mensalão em 2012).

Fernando Henrique Cardoso conteve a oposição, na instauração de um processo de impeachment, em 2005. Porque acreditava que um impeachment, naquele então, abalaria, mais uma vez, nossa incipiente democracia.

Assim, quando vierem falar que PSDB e PT "são a mesma coisa" em matéria de corrupção, evoque o escândalo do Mensalão. Conte do Mensalão. Refresque a memória de quem quer que seja sobre o Mensalão.

O Mensalão foi o Holocausto da nossa República, em matéria de corrupção.

E devemos lembrar dele sempre. Para que não haja mais confusão.

Julio Daio Borges
9/10/2014 às 15h15

 

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