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Domingo, 12/10/2014 Jó no Clube de Leitura Eugenia Zerbini O Clube de Leitura da Livraria Zaccara reúne-se mais uma vez nesta segunda-feira, dia 13/10, das 19 às 21 horas, para conversar sobre o livro de Joseph Roth, Jó, romance de um homem simples (SP, Cia.das Letras, 2008). Em sua 1ª elegia, o poeta R.M. Rilke (1875-1926) já afirmava que todo anjo é terrível. O que dizer do próprio Deus? Em Jó, do Antigo Testamento, o Divino dá mostras do que é capaz: apostar com o Demônio a fidelidade do mais devotado de seus servos, Jó. A crônica de Jó, escrita entre 600-300 AC, serve de mote para o romance de Joseph Roth (1894-1939), autor judeu, nascido dentro dos limites do então império austro-húngaro, numa região que hoje pertence à Ucrânia. "Há muitos anos, vivia em Zuchnow um homem chamado Mendel Singer. Piedoso, temente a Deus e em nada extraordinário, era um judeu comum", começa o romance. Casado com Débora, é pai de quatro filhos: Jonas, Schemariah, Miriam e Menuhim. Este último com sérios problemas de saúde. Mendel ganha a vida ensinando as crianças a ler e memorizar a Bíblia, em seu vilarejo, na Rússia, na primeira década do século XX. Até que os fatos o levam a emigrar para os Estados Unidos. Como no livro da Biblia, um daqueles de mais difícil interpretação, uma vez que demonstra a face terrível do Criador, pondo à prova sua Criatura, Mendel Singer irá perder tudo. Para quem conhece as Escrituras isso não é "spoiler". Mas Roth dá um desenlace surpreendente à história. Mendel, ao contrário de Jó, perde sua fé, blasfema contra os céus, mas tem um final redentor. Porém, até chegar lá... "O nascente calor do novo dia já penetrava a penumbra matinal no cômodo. Logo o relógio deveria soar as seis horas, hora em que Mendel Singer costumava se levantar. Débora não se moveu. Ficou parada no mesmo ponto em que, dando as costas ao espelho, virara-se para a cama. Nunca havia ficado assim, de pé, numa espreita, sem propósito, sem necessidade, sem curiosidade, sem desejo. Não esperava absolutamente nada. Mas parecia-lhe que devesse esperar algo especial. Todos os seus sentidos estavam mais despertos do que nunca, e a eles juntavam-se ainda alguns novos e desconhecidos, que despertavam para auxiliar os antigos. Via, ouvia e sentia mil vezes a mais. E nada acontecia. Apenas despontava a manhã de verão, e cotovias gorjeavam na distância intangível, enquanto raios de sol comprimiam-se com calorosa violência através das frestas das persianas, e as largas sombras nas bordas dos móveis tornavam-se mais e mais estreitas, e o relógio tiquetateava, tomava impulso para soar as seis batidas, e o marido respirava. Silenciosos, os filhos seguiam deitados no canto, perto do fogo, visíveis a ela, mas distantes, como se em outro cômodo. Absolutamente nada acontecia. Contudo, algo imenso, infinito, parecia prestes a acontecer. O relógio bateu, como uma salvação. Mendel Singer acordou, endireitou-se na cama e, admirado, olhou fixamente para a mulher. "Por que você não está deitada?", perguntou. E esfregou os olhos, tossiu e cuspiu. Nada em suas palavras ou maneiras denunciava que seu olho esquerdo estivera aberto, espiando por conta própria. Talvez ele já não soubesse de nada, talvez Débora tivesse enganado. Desde aquele dia, extingiu-se o desejo entre Mendel Singer e sua mulher". O que: Clube de Leitura Livraria Zaccara Onde: Livraria Zaccara, Rua Cardoso de Almeira, nš1.356, Perdizes - São Paulo (SP) Quando: 13/10/2014, Segunda-feira, das 19 às 21hs. Evento gratuito Eugenia Zerbini |
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