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Quarta-feira, 19/11/2014
Paulo Francis e a Petrobras
Julio Daio Borges

Leitores me escrevem lembrando o caso envolvendo Paulo Francis e a Petrobras. Alguns querendo sugerir que sempre houve corrupção na estatal, mesmo durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Portanto, deveríamos "relativizar" o "petrolão". Obviamente, não concordo.

Acompanhei o caso de perto. Era leitor assíduo do Francis. Era espectador fiel do Manhattan Connection. No programa, Paulo Francis sugeriu que diretores da Petrobras tinham contas secretas na Suíça. Joel Rennó, então presidente da estatal, usou a estrutura da empresa para processar o jornalista nos Estados Unidos. Pediu 100 milhões de dólares. Era 1996.

Por iniciativa de José Serra, então senador, Fernando Henrique Cardoso foi acionado. Era o presidente da República. Não adiantou. Rennó não voltou atrás. O processo continuou. Paulo Francis morreu de ataque do coração. Lembro de ler em suas colunas: mesmo que vendesse tudo, não conseguiria pagar a indenização.

Hoje, no petrolão, um único gerente, envolvido no esquema, se dispôs a devolver R$ 250 milhões de reais. Quase 100 milhões de dólares, antes de o câmbio disparar com a reeleição...

Não descarto que houvesse corrupção na Petrobras, na época de FHC. Mas não era a mesma coisa.

A corrupção, se havia em 1996, era pontual. O petrolão, desde 2006, é um *esquema*. Trata-se de corrupção sistêmica. Não é um ou outro ladrão, o esquema tinha regras claras: 3% de todos os contratos iam para políticos e/ou partidos.

Em 1996, o objetivo talvez fosse enriquecimento ilícito. A partir de 2006, o objetivo foi comprar apoio no Congresso Nacional. Dobrar o Legislativo ao Executivo. Pagar campanhas do PT e de seus aliados. Financiar o projeto de poder de um partido.

Por último, em 1996, o comando não era de Fernando Henrique Cardoso. Se fosse, uma sinalização sua teria interrompido o processo contra Paulo Francis. FHC não mandava na Petrobras como Lula e Dilma mandaram e mandam.

Dilma, vale repetir, foi Ministra das Minas e Energia, foi presidente do Conselho de Administração, foi ministra-chefe da Casa Civil e foi Presidente da República. Indicou, e é amiga pessoal, de Graça Foster, a mesma presidente da Petrobras que mentiu na CPMI da estatal. E Paulo Roberto Costa - que Dilma finge não conhecer agora - foi convidado para o casamento de sua filha...

O petrolão remonta a 2006, um ano depois do estouro do escândalo do mensalão. Fim do primeiro governo de Lula. Que FHC - sim, FHC - salvou do impeachment. E que foi reeleito em 2006. O petrolão se arrasta até o primeiro mandato de Dilma. Paulo Roberto Costa, aliás, era o "Paulinho do Lula". E Renato Duque - cuja fortuna no exterior se calcula agora - foi indicado por José Dirceu. Lula e a direção do PT transladaram o mensalão para a Petrobras: virou petrolão.

Paulo Francis tinha horror ao PT e a Lula. Mas acredito que nem em seus piores pesadelos poderia imaginar um esquema de corrupção assim. Joel Rennó talvez fosse corrupto - e merece toda a condenação no "caso Francis" -, mas não passa de um "ladrão de galinha" perto dos investigados pela operação Lava Jato.

A estratégia do PT - quando pego em erro - é apontar o dedo para o PSDB. Como naquela frase de Lenin: "Acuse seus adversários do que você faz, chame-os do que você é".

Paulo Francis deve ser deixado em paz. Já o petrolão deve ser investigado até as últimas consequências.

Julio Daio Borges
19/11/2014 às 12h59

 

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