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Terça-feira, 25/11/2014
Jeitos de trabalhar
Julio Daio Borges

Jeitos de trabalhar (e formas de vida)

Estudar é solitário. Assistir aula é em grupo.

Na faculdade, fiz um estágio bem técnico, num dos departamentos, mas passava a maior parte do tempo produzindo resultados sozinho, para depois apresentar ao meu supervisor direto.

Em seguida, fiz um estágio numa consultoria e tive a experiência de trabalhar com "peers". É muito estimulante conviver com alguém que seja um "igual" mas que, ao mesmo tempo, seja um agente provocador.

Trabalhei em bancos. No primeiro, me identificava pouco com as pessoas. No segundo, me identificava mais. Mesmo assim, não era um lugar onde eu queria fazer "carreira" pelo resto da vida.

O começo do Digestivo foi em paralelo ao banco. Em horários de almoço, à noite e durante os fins de semana. Depois trabalhei na casa dos meus pais e minha mãe ficava feliz da vida porque podia me servir um lanche à tarde ;-)

Para abrir a empresa, fui para um escritório. Mas como sempre tivemos colaboradores remotos no site, passei uns bons dez anos trabalhando sozinho, como sabem meus poucos estagiários e editores-assistentes.

Quando viemos para uma casa, eu, a Carol e a Catarina, havia espaço para os nossos respectivos "home offices" e assim fizemos.

Agora, começo um projeto novo (mais pra frente comento dele com vocês) e um sócio, e amigo, me ofereceu seu espaço para dividir comigo. E depois de quase vinte anos me sinto trabalhando com "peers" de novo...

Nos primeiros anos do Digestivo, para escrever eu precisava de muita concentração, silêncio. Às vezes acordava mais cedo. Às vezes produzia de madrugada.

Depois que veio a Catarina, eu tive de aprender a produzir em qualquer situação. Como eu me revezava com a Carol, meus horários não eram tão fixos. E como a Catarina queria atenção, muita coisa ficava para depois que ela dormia. Então, a gente dormia mais tarde, e menos.

O tempo foi passando, a Catarina foi crescendo, e eu fui aprendendo a produzir - mesmo coisas que exigiam concentração - ao lado dela, respondendo perguntas às vezes complexas, em meio aos seus desenhos e às primeiras letras.

Agora entro numa estrutura de escritório novamente e eu gostando de racionalizar, outra vez, os processos.

Acredito que a vida é um "vai e vem" de fases e organizamos nossa rotina conforme a demanda.

Foi um privilégio participar dos primeiros anos da Catarina bem de perto. Ao mesmo tempo, sinto que a oportunidade do meu novo projeto surgiu na hora certa: a Catarina tem cada vez mais autonomia e vai formando o círculo dela, com crianças da idade dela. Tem já o seu mundo.

Lembro de uma discussão com a minha mãe, sobre um projeto de intercâmbio, em que ela foi muito crítica mas, no final, concluiu: "Eu não criei vocês pra mim; criei vocês para o mundo".

É verdade. Mas continuamos temerosos de introduzir nossos filhos ao mundo. E de se embrenhar nele...

Julio Daio Borges
25/11/2014 às 12h27

 

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