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Domingo, 30/11/2014
Equipe econômica
Julio Daio Borges

(Equipe econômica, causas e consequências)

Ainda Joaquim Levy...

A escolha da nova equipe econômica, para o segundo mandato de Dilma Rousseff, está carregada de simbolismos, e vale a pena "perder" um tempo com ela.

Em primeiro lugar, é o maior reconhecimento do fracasso da política econômica do primeiro mandato de Dilma. Não deu certo, estão fazendo um giro de 180 graus. Joaquim Levy é discípulo de Armínio Fraga, inclusive se aconselhou com ele antes de aceitar o convite. Armínio, ex-FHC, demonizado pela propaganda do PT, diametralmente oposto a Guido Mantega, ex-Dilma.

Em segundo lugar, é a maior comprovação de que a campanha eleitoral de João Santana mentia deslavadamente. Joaquim Levy chega para fazer ajustes na área fiscal, reencaminhar a inflação para o "centro da meta" e retomar o crescimento econômico. Um governo que lhe passa uma missão dessas oficialmente reconhece que as contas públicas estavam desorganizadas, a inflação estava descontrolada e o crescimento econômico não ia bem. Ou seja: o oposto do discurso da candidata Dilma. A expressão "estelionato eleitoral" não é um exagero aqui.

Chegamos, então, aos eleitores de Dilma, a seus apoiadores, e não só na área econômica. Quem votou na política econômica de Guido Mantega, acaba de eleger, na prática, Armínio Fraga, isto é: Aécio Neves ou, até, Marina Silva. É natural que quem acreditou na cantilena de "emprego e renda" - ainda que ela seja "fake" - se decepcionou, descarregou sua frustração nas redes sociais e até assinou "manifestos" sem pé nem cabeça. Se o estelionato eleitoral já estava configurado entre os eleitores menos informados - que se deixaram levar pela lavagem cerebral de Santana -, o que dizer dos, supostamente, mais bem informados? Talvez mereçam, mais do que os outros, esse "choque de realidade". Mas isso não elimina a sensação de logro...

Dilma, por outro lado, não tinha alternativa se queria manter o "grau de investimento", o Brasil como o "B" dos BRICs e até os "especuladores" ou, como preferem chamar na Argentina, os "abutres". (Não vamos sofrer Argentinização. Nem Venezualização. Pelo menos, não na economia. E, pelo menos, não no curto prazo...)

Mas Joaquim Levy não resolve todos os nossos problemas (nem os da Dilma). Além do fogo amigo, do PT, dos aliados inconformados e dos eleitores enganados da presidente, Levy não é garantia de paz com a oposição e nem de apoio dos eleitores de oposição.

Joaquim Levy é, literalmente, um estranho no ninho, e a grande questão, por parte de quem desconfia do "arranjo", é: quanto tempo ele vai durar?

Porque a escolha de Levy não é, simplesmente, a de alguém para "acalmar" o mercado. É quase uma escolha de programa de governo. E, dilmistas: está mais parecido com o de Aécio Neves.

Controlar os gastos do governo, por exemplo, significa controlar os investimentos em programas sociais, quando não cortar os próprios programas (lembram que votar em Aécio "significava" cortar Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida?).

Controlar inflação pode significar cortar os aumentos do salário mínimo - descolados dos ganhos em produtividade. (Que é o que Dilma fez nos últimos quatro anos.) Ou seja: dilmistas, esqueçam o aumento "compulsório" da "renda" da época de Guido Mantega...

E promover o crescimento significa, num primeiro momento, trazer o Brasil para um realismo que, há muito, não se via. Além dos ajustes em preços defasados de combustíveis e energia, isso talvez se traduza em aumento de impostos... "Mais impostos". Ou: "novas ideias, novos impostos".

Joaquim Levy já prometeu um 2015 ruim, um 2016 "menos ruim" e um 2017, quiçá, bom...

Isso tudo complementado pela eclosão do escândalo da Petrobras, cuja próxima fase da investigação tem como foco... políticos e partidos. (Advinhe quais siglas...)

Dilma fez a coisa certa, nomeando Joaquim Levy para a Fazenda? Sim. Mas isso vai encerrar o que estão chamando de "terceiro turno" da eleição? Não.

Julio Daio Borges
30/11/2014 às 14h21

 

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