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Quinta-feira, 11/12/2014 Caminhos para Roma Celso A. Uequed Pitol ![]() E as coisas não pararam por aí. No afã de recuperar o tempo perdido foi elaborado um projeto grandioso, delineado no excelente texto introdutório elaborado por Olavo para os "Ensaios" e que incluiria, além dos estudos literários e da monumental "História da Literatura Ocidental", os escritos dos tempos de Europa, inéditos em português e esquecidos pelo público europeu. O próprio Carpeaux, depois que chegou ao Brasil, em 1942, nunca fez questão de realçar estes estudos, referindo-se a eles em dado momento como "superados" ou então cobrindo-os com um silêncio misterioso, como se tivesse algo de muito grave a esconder. O tempo passou e, infelizmente, o plano original da Topbooks foi deixado de lado. A editora ainda lançaria o segundo volume dos "Ensaios" em 2005, já sem a presença de Olavo na coordenação (e contando com um belo ensaio introdutório de Ivan Junqueira). Anos depois, a Editora do Senado Federal encampou o projeto de republicação da "História da Literatura Ocidental" em quatro volumes. A esta edição seguiu-se uma outra, por iniciativa da Livraria Cultura. Em 2013, por fim, saiu a "Historia Concisa da Literatura Alemã", pela editora Faro. O processo de retomada de Carpeaux seguia e com grande força, mas sem os escritos europeus; estes continuavam a ser aguardados pela multidão de leitores que, nestes anos todos, formaram-se como tais a partir das obras recém-descobertas do mestre austríaco. Felizmente,já não é preciso mais esperar: graças à iniciativa da Vide Editorial, e com a tradução de Bruno Mori, acaba de ser publicado "Caminhos para Roma", a estreia de Carpeaux no mundo intelectual de sua Áustria natal. Com ele, nós, que conhecíamos o Carpeaux crítico literário, jornalista combativo e divulgador de Kafka, Thomas Mann, Wilhelm Dilthey, Max Scheler e tantos outros nomes no Brasil, travamos contato pela primeira vez com o Carpeaux jovem ensaísta católico de 34 anos, crítico de todos os produtos da cultura moderna pós-iluminista (a rigor, pós-Reforma protestante), do marxismo ao liberalismo, do darwinismo à psicanálise,decidido apologista da Igreja e crente profundo em sua missão de restabelecer a ordem perdida deste mundo. Não é uma face totalmente desconhecida dos leitores brasileiros: já em seus primeiros textos publicados no país, no começo dos anos 40, o austríaco demonstrava uma familiaridade incomum com a tradição intelectual católica. Ademais, o bom leitor dos ensaios de Carpeaux ou de seus livros de história literária imediatamente reconhecerá a força do polemista, as exclamações apaixonadas, o permanente diálogo com o leitor e com os opositores, a clareza, a elegância e o pendor didático que jamais, em momento algum, degenera em simplificação. E este bom leitor reconhecerá também neste Carpeaux de 1934, escrevendo à espreita do perigo nazista e sob o olhar do bolchevismo, do liberalismo e de tantas outras ideologias, um autorizado analista que, passados oitenta anos, ainda tem muito a dizer aos homens de hoje. Lançado a poucos dias do fim do ano, "Caminhos para Roma" já pode ser considerado um dos grandes títulos de 2014. Celso A. Uequed Pitol |
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