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Sexta-feira, 20/5/2005 Noite de Inverno Julio Daio Borges Caiu neve. Depois da meia-noite, bêbado de vinho purpúreo, deixas a zona sombria dos homens, a chama vermelha do seu lume. Ah, a escuridão! Geada negra. A terra está dura, o ar tem um sabor amargo. As tuas estrelas juntam-se e formam sinais malignos. Com passos duros caminhas ao longo da linha férrea, de olhos redondos, como um soldado que ataca uma trincheira negra. Avante! Neve amarga e lua! Um lobo vermelho a ser estrangulado por um anjo. As tuas pernas tilintam, a andar, como gelo azul, e um sorriso cheio de tristeza e arrogância cobriu-te o rosto, e a fronte empalidece com a volúpia da geada; ou inclina-se em silencio sobre o sono de um guarda que se deixou cair na sua cabana de madeira. Geada e fumo. Uma camisa branca de estrelas queima os ombros que a vestem e os abutres de Deus dilaceram o teu coração metálico. Oh, a colina de pedra! O silêncio derrete, e esquecido jaz na neve prateada o frio corpo. Negro é o sono. O ouvido segue longamente os atalhos das estrelas no gelo. Ao despertar tocavam os sinos na aldeia. Da porta do levante nascia, prateado, o dia rosado. Georg Trakl, amigo do Wittgenstein, em tradução de Roberto Schmitt-Prym, na revista Máquina do Mundo, que ganha sua segunda edição e que tem intervenção do Bro Fa. Julio Daio Borges |
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