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Sexta-feira, 27/3/2015 Janine Ribeiro na Educação Julio Daio Borges Conheci o professor Renato Janine Ribeiro na Filosofia da USP, em 1998. Para quem não sabe, prestei Filosofia depois que terminei a Engenharia na Poli, mas nunca concluí. Ele dava um curso de Filosofia Política e nunca esqueci das aulas sobre Maquiavel. Estava começando a namorar a Carol e comentava com ela sobre as aulas de Thomas Morus. A Utopia, para o professor, era, sobretudo, uma obra arquitetônica. A Carol fez FAU. Abandonei o curso quando o professor falava de Montesquieu. O curso era à noite. Eu trabalha durante o dia no Itaú, no Jabaquara. Alguns dias ainda passava em casa, em Moema, para buscar a Mamãe e assistir às aulas da professora Marilena Chauí. Mesmo sendo outra cidade, outros tempos, senti que não aproveitava o curso. Quando percebi que não estava conseguindo ler, minimamente, o material para discussão em classe, pensei em trancar. Não era justo prender uma vaga. Também naquela época começava a distribuir meus primeiros textos via internet (pré-Digestivo; assinando "J.D. Borges"). Eu pensava em mostrar para o professor, para ver o que ele achava... Mas tinha medo de que achasse minhas opiniões ingênuas, sobretudo as políticas. Em 2013, ano em que a Mamãe nos deixou, voltei a escrever, justamente, elogiando o Facebook do professor Renato Janine Ribeiro. Sim, o Facebook. Ele conseguiu transformar a rede social num palco para suas opiniões políticas. Havia muita sabedoria nelas. Chamei-o de "mestre oral". Ele gostou. Disse que estava "bem escrito". E compartilhou em sua própria página. Frisando que não me conhecia. O que tirava qualquer "interesse" da minha opinião sobre ele. O professor brilhou no ano eleitoral de 2014, a partir do acidente de Eduardo Campos. Ninguém parecia escrever sobre política, em tempo real, como ele. Era capaz até de elogios a Aécio Neves. Citei-o textualmente algumas vezes. Gostava tanto da sua produção naquela época que tive a ideia de um novo site sobre política, ou uma rede de blogs, e convidei o professor para participar. Ele gostou da ideia. Conversamos primeiro por telefone. Depois nos reunimos na Casa do Saber. Achei o professor mais velho. Afinal, 15 anos haviam se passado. Também se disse cansado da vida de alta produtividade (a expressão é minha): muitas aulas, produção acadêmica etc. Havia vivido aquilo durante décadas. Não queria mais. Aconteceu que eu também me envolvi na discussão política, no ano passado. Com o avanço da polarização, sobretudo no segundo turno, fomos para espectros diametralmente opostos. Quando Dilma venceu e li, no FB dele, que sua primeira sensação foi "alívio", parei de segui-lo na hora. Era demais para mim. Mesmo para mim, que nutrira uma admiração de "aluno" por ele... Não me conformava que tanta sabedoria política, no fim, estivesse a serviço de um dos projetos de poder mais condenáveis em toda História do Brasil. Cheguei a cogitar se o professor não tinha algum tipo de subsídio, dada a sua produtividade no Facebook, e a defesa "súbita" de Dilma. Talvez parte da explicação esteja na sua nomeação, agora, para o Ministério da Educação. É um grupo político que premia, regiamente, seus soldados. Mesmo vozes solitárias... nunca são esquecidas. Não conheço a carreira do professor como burocrata, nas engrenagens dos órgãos públicos, mas consta que tem uma experiência considerável. A verdade é que não tenho como avaliar se será (ou não) um bom ministro da Educação. Um tremendo de um conselheiro político, sei que poderá ser - se a Presidente souber aproveitar... E esse governo poderia ter o seu Voltaire. Apesar de que as experiências de filósofos com política nem sempre foram bem-sucedidas. Platão foi aconselhar um governante em Siracusa e se deu mal. Platão - que escreveu a República. Que, aliás, inspirou a Utopia, de Morus. Em 1998, o professor falava que ao invés de se levar "ética" à política - como era moda então - deveria-se levar "política" à ética. Hoje, precisamos da ética novamente. Sobretudo, o ex-partido da ética... Que o professor não decepcione seus alunos no exercício do poder. (Como decepcionou como comentarista político.) Compartilhar Julio Daio Borges |
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