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Domingo, 12/4/2015
Barbara Heliodora e a crítica
Julio Daio Borges

Morreu a última crítica de teatro. Talvez *o último crítico* de teatro. Talvez o último crítico, ponto.

Barbara Heliodora reunia duas qualidades essenciais num crítico. Conhecia o assunto como ninguém. (Era especialista em Shakespeare.) E falava o que pensava. Sem meias-palavras. Encarava o teatro contemporâneo com destemor e jovialidade.

Como qualquer pessoa que milita na crítica, fez inimigos. Lembro de um Roda Viva com o José Celso Martinez Corrêa, em que ele a convidou para entrevistá-lo. Ela nunca engoliu ele (sua obra). Em busca da unanimidade, que todos procuramos, ele tentava dobrá-la até o final...

Cada vez que morre um crítico, repetimos que é "o último", porque é uma ocupação extremamente impopular, ainda mais hoje. Ninguém escolhe. Quem quer ser odiado por amplos setores da sociedade? Infelizmente é assim que a crítica é enxergada.

Mas crítica é muito mais, óbvio. Só uma crítica *de verdade* para contextualizar uma obra, dar sua real dimensão. Quando você se impressiona com um filme, e quer saber tudo sobre ele, é *crítica* que você está procurando. "Ele é tudo isso mesmo? Tem esse valor todo que eu estou enxergando?"

Um dos maiores absurdos que ouvi de um amigo escritor foi: "O crítico é 'só' mais um leitor". Não é. O crítico pode ser *o* leitor. O leitor, inclusive, que aquele escritor estava esperando...

Uma época sem crítica é uma época sem referências. Onde ninguém sabe o valor de nada. E onde tudo está à venda.

A realidade é que a produção contemporânea atropela os críticos de hoje, ou os que se candidatam à função. E quando eu digo "contemporânea", não estou me referindo necessariamente à vanguarda. Uso o sentido de "contemporâneo" como o do tempo onde "tudo está presente".

Eu poderia falar em "indústria cultural", mas não acho que esse seja o problema. A meu ver, o problema é que vivemos em uma época "popular", para não dizer popularesca, onde a audiência é o bem supremo. E não falo só de televisão, de "celebridades", mas também de curtidas, comentários, compartilhamentos...

Quem, em sã consciência, vai querer ir contra o gosto médio? Dizer que as massas estão enganadas? Ser aristocrático? Passar por "antidemocrata"?

Porque é isso que a crítica faz, na maioria dos casos. A crítica tem de dizer que o rei está nu. Mas quem quer saber? The show must go on...

Conheci a Barbara Heliodora através do Paulo Francis. Era um dos poucos críticos que ele indicava. Junto com o Wilson Martins, que também nos deixou nos últimos anos.

Paulo Francis - que era a encarnação do crítico. Quer saber o que era um crítico? Procure o Paulo Francis.

Não li muito a Barbara Heliodora, confesso. Não peguei sua fase mais ativa. Mas me deparei com um dos seus últimos livros sobre Shakespeare, que resenhei para o Digestivo.

Gostava das suas entrevistas. Em que ela não tinha medo de enfrentar as vacas sagradas. Como o Gerald Thomas, no auge da "consagração".

Barbara Heliodora estava no meu Facebook como "Babi" qualquer-coisa. Imagina ela fazendo crítica nas redes sociais? (Sendo acusada de "desumana"?)

A crítica, definitivamente, não está na ordem do dia. Mas isso não significa que não seja necessária...

Pagamos muito caro quando a propaganda e o marketing dominam cena. Dia 12 de Abril. Alguém duvida?

Para ir além
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Julio Daio Borges
12/4/2015 às 11h29

 

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