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Sexta-feira, 15/7/2005
Movimento Literatura Urgente
Julio Daio Borges

O Santiago Nazarian falou e falou bonito sobre a miséria que nós, escritores da borda, vivemos. Pelo terceiro mês seguido, minhas contas não fecham e eu vou ter que pedir dinheiro emprestado. Só que como eu não tenho família nem amigos ricos, peço dinheiro ao Banco do Brasil. Você sabe o que é pagar juros bancários pra cobrir despesas normais de uma vida sub-normal? E o pior é que tem muito amigo meu que ainda me acha sortuda: Você ainda tem crédito no Banco do Brasil?

Você sabe onde eu estarei hoje lá pelas 6 da tarde? Sacudindo o esqueleto dentro de uma Kombi caindo aos pedaços, catando mendigo pelas ruas do Capão Redondo. Isto porque o senhor secretário não quer nenhum mendigo na rua. Mas vocês acham que eles querem ir para o abrigo da prefeitura? De jeito nenhum. Mil vezes ficar na rua a ser levado feito pacote extraviado para um lugar cheio de gente que ele não conhece, um lugar que parece um hospital, um lugar onde vão obrigá-lo a tomar banho e a deixar o cachorro, que ele tanto ama, do lado de fora.

As assistentes sociais acham isso um barato. É o tesão da vida delas, elas estudaram pra isso, escolheram fazer isso na vida. Mas, positivamente, este não é o meu caso. Eu sou apenas uma escritora pobre que prestou um concurso para socióloga e caiu, por acaso, nesta secretaria. Uma escritora que há 14 anos é obrigada a fazer coisas que não suporta até que a aposentadoria (ou a morte) me liberte. Oremos por todos nós.

Ivana Arruda Leite, indiretamente, sobre a matéria da Veja (sobre o Movimento Literatura Urgente), que o Marcelino Freire comentou, e o Ademir Assunção e o Ricardo Aleixo...

Julio Daio Borges
15/7/2005 às 14h47

 

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