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Terça-feira, 26/7/2005
O País da Fila
Julio Daio Borges

Vocês já repararam como o pessoal gosta duma fila neste país? Basta aglomerar um pouco de gente que já se forma uma filinha...

Aqui se faz fila para tudo. Chega até a ser engraçado. Já conheci muitos estrangeiros que se disseram impressionados com a "organização" do nosso povo. Sim, a cultura da fila indica respeito pelo próximo e um senso curioso de organização, mas permite também algumas outras considerações.

Eu interpreto a mania por fila mais como um reflexo da história do país e da identidade do nosso povo do que como sintoma de civilidade. O brasileiro é otimista. A realidade o contesta. A fila representa a possibilidade de algo melhor. O sujeito vê uma fila e logo imagina uma oportunidade. Faz-se fila para vaga de emprego, para entrar em bar, para almoçar, para pagar conta, para tirar documento, para ganhar brinde, para votar, para parar o carro, para entrar no ônibus, no banco, na loja, no café, no chuveiro da praia, para jogar na loteria, enfim, para sonhar. O brasileiro entra na fila sem saber do que se trata porque o incerto, por poucos segundos que seja, faz com que se esqueça de seu presente.

A fila fornece uma imagem interessante: representa ao mesmo tempo o sonho e a espera por um futuro melhor e um passado de sofrimento, de cabeça baixa, de "sim, senhor".

E tem mais: toda fila tem alguém querendo furá-la, algum esperto tentando levar alguma vantagem sobre os outros "babacas". Isso lembra alguma coisa?

Do Gui, cujo Pitacos linca pra nós.

Julio Daio Borges
26/7/2005 às 12h29

 

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