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Quinta-feira, 21/7/2005 Maturidade cênica Guilherme Conte O sol apareceu. E com ele, o calor. Inshallah! Esse é o São José do Rio Preto que conheço. E lá vou eu, agora bem mais animado. Às 14h me mandei para o Centro Cultural, para assistir à palestra Mostra do processo de trabalho do ACT (Ateliê de Criação Teatral de Curitiba). Era uma boa maneira de conhecer o trabalho do grupo e ir para a peça com um pouco mais de repertório, e de sentir um pouco o clima do festival entre atores, diretores e professores - a tal "classe teatral". Foi bacana. Depois de passar um vídeo, atores, diretor e produtora falaram sobre a proposta do Ateliê, o processo de concepção e de ensaio de Daqui a duzentos anos (a peça deles aqui no FIT), a relação deles com o teatro etc. Abriu-se um debate entre a platéia e a mesa, que rendeu algumas discussões interessantes. Valeu. E deu para sacar um pouco do clima de "formação" do FIT: a sala estava cheia. De volta ao hotel, aproveitei para ler e descansar um pouco. Mais à noite, conheci o Tiago Velasco, da outracoisa, que iria rachar comigo a carona para o Teatro Municipal, para assistir o Daqui a duzentos anos. Ele está aqui num esquema meio gonzo, no melhor estilo "um roqueiro que caiu num festival de teatro". Curioso, a matéria promete. Chegamos em cima da hora. Lotado. Fundos do Municipal, numa arena. À entrada, recebemos singelas almofadas para colocar sobre os bancos. No palco, quatro cadeiras, uma em cada vértice (? - anos que não uso essa palavra). Música tranqüila, ao fundo. Atmosfera de curiosidade. Cessa a música. Silêncio sepulcral. Dos fundos, entram Luís Melo, Janja e André Coelho - os atores - e Edith de Camargo - música/atriz. Edith toca um suave acordeão. Eles tomam seus lugares. E começam a contar histórias. A peça é isso - contar histórias. E, assim, sem inventar, sem sobras, é excelente. Reúne diversos contos de Anton Tchekhov, monstro sagrado da literatura russa, contados e dialogados pelos atores. O cenário limpo, quase minimalista, deixa claro que o texto é o astro da noite. O texto, ok, e Luís Melo. Sua atuação é impressionante; parece que ele está em casa, contando as histórias para um amigo. Convence, esbanja maturidade. Não quero cometer injustiças: Janja e André estão ótimos. Mas Melo é o dono do palco, indiscutivelmente. Do que ouvi na palestra: fruto de seis meses de leituras, ensaios e estudo, Daqui a duzentos anos nasceu no Núcleo de Produção Teatral do ACT de uma necessidade muito clara: o trabalho com a palavra. E, nesse ponto, a escolha de Tchekhov não poderia ser mais acertada. O diretor convidado Marcio Abreu enfrentou então outro grande problema: como botar os contos no palco? Dissecando as estruturas narrativas, arrancou dali uma "tradução cênica". Mas - e aqui está a grande jogada - deixando o conto, o texto, em primeiro plano. A limpeza da montagem visou não limitar a possibilidade de criação de imagens pelo público. E funcionou muito, muito bem. É impecável. Ouvi dizer, por aí, que ela vai para o SESC Belenzinho em algum momento do segundo semestre. Torçamos para que sim. Melo, na palestra: "Como ator, o que importa é a verdade. Um ator está bem quando o público acredita nele. Se não acredita, é porque algo está errado". Poderia ser mais simples do que isso? Guilherme Conte |
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