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Segunda-feira, 19/9/2005
Osesp, 17.09
Fabio Silvestre Cardoso

Na Sala São Paulo, são quase 16h30. O público parece saber e atende quase que imediatamente ao chamado sonoro do início do espetáculo. Afinal, ninguém quer perder o este concorrido Concerto. A lotação se justifica: no programa, duas peças de Ludwig van Beethoven e uma de Wolfgang Amadeus Mozart. Como se não bastasse, tem mais. O aviso é do maestro John Neschling: a Orquestra dá continuidade na gravação das peças de Beethoven, mais precisamente : A Consagração da Casa e A Sinfonia Pastoral. Por isso, ele pede: "o máximo de silêncio possível, para que nós possamos captar o som mais absoluto. Depois, vocês podem tossir à vontade.", brinca em tom sério, seguido de risos da platéia.

Em seguida, o silêncio. O público parece ter entendido o recado e logo nas primeiras notas da abertura de A Consagração da Casa é possível ouvir as variações de cada naipe sendo executadas, a princípio, com suavidade, mas que adquire velocidade à medida que a peça avança. Destaca-se, nessa passagem, o trabalho dos fagotes, executados por Alexandre Silvério e José Arion Linarez. Isso porque as cordas (violinos, violas e violoncelos) entoam um diálogo musical que é pontuado pelos fagotes, numa evolução sutil, é verdade, mas que não perde o virtuosismo (nesse sentido, o silêncio foi providencial para que se pudesse perceber esse detalhe). A performance da Orquestra entusiasmou até mesmo os ouvidos instruídos da musicista que estava ao lado deste colunista. "É uma peça difícil de ser tocada, porque exige muito das madeiras, ainda que não apareçam tanto como os violinos", analisou. Ao final da peça, o público então pôde quebrar o silêncio que fez até então e encheu a acústica da sala com seus aplausos para lá de entusiasmados.

Para a Sinfonia nº25 em Sol Menor, KV 183, de Mozart, a Osesp trocou sua formação. Saíram do palco, por exemplo, os trombones e os trompetes, restando os fagotes, os oboés, as trompas e o naipe de cordas. O resultado, no entanto, foi contundente. Num primeiro movimento imponente, a Orquestra fez jus às palavras que o crítico Irineu Franco Perpétuo escreve no programa: "tempestade e ímpeto, marcada por contrastes dramáticos". Esses contrastes são assinalados ora pelos violinos, ora pelos violoncelos numa dinâmica que não perde o andamento ao longo dos quatro movimentos. Ademais, percebe-se aqui um John Neschling também contagiado pela imponência da obra.

Ultima parte do programa, A Sinfonia nº6 em Fá maior, Op.68 - Pastoral a mais aplaudida peça de todas as três. Obviamente, isso se deve em parte pelo fato de ser um standard. Entretanto, há que se considerar que o público, uma vez conhecedor da obra, ficaria mais atento - e exigente - no que se refere à sua execução. De sua parte, a Orquestra não decepcionou e esteve ainda mais à vontade do que n'A Consagração da Casa (se se comparar o comportamento perante as duas gravações). O "despertar de sentimentos felizes na chegada ao campo", movimento de abertura, chamou a atenção pela leveza dos violinos e pelas madeiras. Com os trompetes e trombones de volta, a diversidade sonora era ainda mais perceptível. Em contrapartida, além dos fagotes, destacaram-se também as flautas e os oboés. Prova disso foi o segundo movimento, "Cena junto ao riacho", em que os solos são mais recorrentes, sempre com referência ao tema principal. Para os leitores interessados, esta Sinfonia Pastoral estará disponível na própria coleção da Osesp a ser lançada nos próximos meses, ao que tudo indica, pela Biscoito Fino.

Fabio Silvestre Cardoso
19/9/2005 às 09h30

 

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