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Quarta-feira, 28/9/2005 Festival do Rio 2005 (II) Marcelo Miranda Começa aqui... Voltando para dar as últimas dicas dos filmes aos quais assisti no último final de semana no Festival do Rio e que ainda têm reprise. No próximo sábado e domingo, provavelmente retornarei à cidade maravilhosa para fazer nova cobertura deste evento grandioso. Até lá, fico daqui babando sobre os filmes que não poderei ver durante a semana... Paciência. E lembrando de novo: informações completas de ingressos e programação no site oficial. Buy It Now - curiosa experiência ficção-documentário que, mesmo quando termina, deixa dúvidas sobre a real natureza de sua linguagem e intenções. Conta o caso de Chelsea, jovem de 16 anos que, entediada e sem atenção dos pais, decide vender sua virgindade pelo famoso site de leilões eBay. Ou seja, quem der o maior lance leva a bela menina para a cama. No início, o incômodo beira o insuportável: inteligentemente, o diretor Antonio Campos intercala o cotidiano de Chelsea, marcado pelo desprezo ao diálogo da mãe e os pensamentos quase infantis, com seu derradeiro encontro em que finalmente vai transar depois de conseguir um "comprador". Tudo mostrado ao público através de imagens supostamente filmadas pela própria garota com uma câmera digital. Sufoca, assusta, incomoda. A banalização do sexo toma formas gratuitamente sérias. Só que, na segunda metade, o diretor parece ter decidido mostrar um "outro lado" de sua narrativa e passa a repetir os acontecimentos, agora encenados com cortes, closes, diálogos decorados (sem abrir mão da imagem em digital). Resultado: o filme desaba. Toda a complexidade e sutileza até então apresentadas são jogadas para baixo do tapete. O filme torna-se fraco e desnecessário, e o que seria uma denúncia a respeito do que pensa a juventude americana de hoje cai no desinteresse. Ainda assim, compensa a ida ao cinema, já que a primeira parte é um impressionante exercício estético sobre moralidade. Vale registrar que Buy It Now ganhou um prêmio especial dado a curtas-metragens no último Festival de Cannes. Claro, ele concorria apenas com os primeiros 30 minutos... Próxima exibição do filme Quarta, dia 28, no Espaço Unibanco 1, às 23h45 A Marca do Terrir - Ivan Cardoso (imagem acima) é um dos diretores mais marginais e marginalizados de toda a história do cinema brasileiro. Seguiu carreira no rastro do gênio de José Mojica Marins (o Zé do Caixão) e se rendeu aos filmes de terror. Só que a forma como desenvolveu as narrativas e os (d)efeitos especiais foi tão ingenuamente engraçada que ele acabou criando um gênero, o "terrir". Clássicos como O Segredo da Múmia, As Sete Vampiras e O Escorpião Escarlate marcam sua filmografia, mas existe uma época praticamente inédita a nós. É a fase do Super-8, em que Ivan filmava as mais alucinadas histórias com essa câmera de custo baixíssimo. E este documentário A Marca do Terrir é exatamente o registro dessa época, um tempo em que a experimentação, para Ivan, era regra, e o exagero, o pastiche, o deboche, já se mostrava comum no seu cinema. Montado de forma meio anárquica, com cenas das mais chocantes e bizarras de seus trabalhos, o filme resgata a chamada série Quotidianas Kodaks, com momentos de deleite visual e sanguinolência (regados a muito molho de tomate). Ivan Cardoso esfrega na cara do público corpos nus, violência e perversões sem deixar de lado o bom humor que desde então, ainda que sem querer, impregnava tudo o que produzia. O ápice disso é Nosferato no Brasil, sátira em que o Conde Drácula vai dar umas voltas na capital carioca e se depara com um paraíso de mulheres lindas (e depravadas) e pescoços sedentos por uma mordida. Obrigatório a quem se interessa em conhecer um outro ângulo do que se faz, sem dinheiro, no cinema do Brasil. E um atestado da paixão de Ivan Cardoso (presente à sessão e muito simpático ao apresentar seu filme) pela arte que o tornou notório. Próxima exibição do filme Quarta, dia 28, no Espaço Unibanco 3, às 23h30 Há outro filme de Ivan Cardoso na programação do festival. Um Lobisomem na Amazônia marca a volta do diretor ao cinema de ficção (e ao terrir) depois de quase 15 anos. Imperdível. Passa na sexta, dia 30, no Odeon, à meia-noite; e na quarta que vem, dia 5 de outubro, em duas sessões no Palácio 1: às 16h30 e às 21h30. Marcelo Miranda |
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