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Sexta-feira, 7/10/2005 De Ubaldo para Glauber Julio Daio Borges Fico sentido falta de que você esteja aqui para ler os originais, porque você sempre me elogia pomposamente, grandiloqüentemente, e ninguém aqui me elogia assim. Não deu um livro grande, deu um livro pequeno, mas muito denso.(...) tenho trabalhado como um infeliz, de manhã, de tarde, e de noite. Jorge Amado pegou o livro e o levou para o Rio, para dar a Ênio [da Silveira, editor da Civilização Brasileira], mas aí Ênio foi preso. Sempre acontece alguma coisa nesse estilo a quem vai publicar um livro meu. Mas já tem uns dois ou três meses que o livro foi para lá. Ênio deu os originais a um cara para ler, e o cara deve ter achado uma bosta, como acharam o outro, que é que se vai fazer... [8/11/1970, com grifo nosso] Escrevo porque sinto falta dos amigos e me sinto um pouco desamparado. Decidi abandonar a condição de editor-chefe da Tribuna, embora ainda deva ficar fazendo uns negócios para eles. Não tenho a menor idéia do que vai acontecer, pois viver de escrever, mesmo no jornalismo, é phoda e, inclusive, ninguém me paga. A Folha paga, mas é pouco. Enfim, não sei. Talvez seja porisso que me deprima um pouco, talvez eu esteja chegando perto dos 40 e me ache um fodido - você veja. Eu não tenho nem onde morar. Fico lembrando ocasiões em que dei vexames ou fiz algo errado e aí tenho tremores rápidos, necessitando sacudir a cabeça rapidamente de um lado para o outro. Minha vida doméstica, graças a Deus, vai bem e então pelo menos nesse departamento há tranqüilidade. Na verdade, às vezes me recrimino por esta ansiedade cretina, esta espécie de masoquismo absurdo, esta insegurança. Dificilmente, contudo, consigo dar jeito sozinho. Quando estou com algum amigo, melhoro. Também tenho rezado pouco e talvez esteja precisando. Tudo isso, contudo, passa. Olhe bem. Esta manhã (são oito horas), devo escrever um editorial, um artigo para a Folha e um projeto para Joaci, propondo meu novo relacionamento com o jornal. Fico achando que é pouca coisa e Berenice me diz que é muita coisa, mas eu acho que é pouca e me sinto o pior dos filhos da puta incompetentes. Deve ser falta de reforço. Deve ser que eu sou maluco. Sinto falta de tantas coisas absurdas. Vi você de vestido na Veja, com uma cara safadíssima, e morri de rir. As coisas são engraçadas: eu tenho uma espécie de ânsia por uma vida arrumada e você é o contrário, e eu não acertaria a ser assim e, no entanto, às vezes tenho inveja. Enfim, são porras. Espero que o filme esteja indo bem. Quanto a mim, sobreviverei. Dê um beijo na Paula e nas lindas crianças. Não se preocupe comigo. Estou melhor depois que escrevi. [31/10/1979] Fiz o seguinte: disse a Joaci que não queria ir mais ao Jornal, que detestava me aporrinhar com aquele negócio todo de redação, enfim, que não tinha mais saco. E então não vou mais. Porém ganho uma terrível miséria para escrever um editorial todo dia, várias notas, dois artigos de lauda e meia por semana, uma crônica de três laudas por semana e mais a edição de um tablóide mensal. Com isso, julguei estar conquistando algo, pois pelo menos trabalho em casa e de bermudas, mas me dá desgosto ter que escrever merdas. Também escrevo para a Folha, como você sabe, recebendo mil e duzentos por artigo e escrevo para o Enfim, mas Tarso não me paga. Enquanto isso não se define, fico em casa ruminando e não converso com ninguém a não ser minha mulher. [28/11/1979] João Ubaldo Ribeiro para Glauber Rocha, no recente volume Obra Seleta, da editora Nova Aguilar (porque o tempo passa, o tempo voa, e os escritores continuam reclamando das mesmas coisas...). Julio Daio Borges |
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