Um clássico, segundo Ítalo Calvino, é o livro que as pessoas dizem que estão relendo, e não que estão lendo. E completa: é o livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. É o caso da obra de Santo Agostinho: desde sua morte, há 1600 anos, nós temos lido e relido suas "Confissões", sua "Cidade de Deus" e seus escritos sobre o livre-arbítrio, a Trindade e dezenas de outros temas - e, nessas leituras e releituras, encontramos novos pontos para debate e novos percursos intelectuais.
É esse o substrato em que se assenta a coletânea "Santo Agostinho: um pensador eternamente contemporâneo" (Editora Paulus, 216 páginas), organizada pelos professores Pedro Calixto (UFJF) e Cristiane N.A. Ayoub (UFABC). Já o percebemos no título: "pensador eternamente contemporâneo". O Agostinho apresentado aqui é um autor que ultrapassa as épocas e fala conosco hoje, frente a frente. Não é um nome do passado, mero estágio inicial do processo de "evolução" do pensamento filosófico. E a obra o demonstra através das leituras contemporâneas que se faz dele.
O livro é composto por seis artigos, abordando temas como a concepção agostiniana de pecado e a noção de subjetivação do tempo; merece destaque o artigo "Agostinho e a fenomenologia do século XX", do filósofo e teólogo francês Emmanuel Falque, que demonstra, talvez mais do que qualquer outra parte do livro, a atualidade do pensamento agostiniano. Mas seus organizadores advertem: os capítulos estão ali para aprofundar a interpretação da obra do bispo de Hipona mas jamais para substituir-lhe a leitura. Ao contrário: querem convidar a lê-lo. Afinal, Agostinho deve ser, como todos os clássicos, um autor também para o amanhã.