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Sexta-feira, 17/4/2020
Entrevista com Cleudo Lima
Julio Daio Borges



Em parceria com o Portal dos Livreiros, lançamos esta série de entrevistas com os Livreiros do Portal. Sempre foi o nosso desejo - desde que o Portal começou -, revelar esse profissional que faz a oxigenação do mercado, recuperando e fazendo circular obras que, de outra forma, seriam descartadas (muitas delas fora de catálogo).

Esperamos que você aproveite esta Entrevista e prestigie o Livreiro Cleudo Lima, neste momento tão delicado do mercado e do livro, no Brasil e no mundo.


1. Conte um pouco da história sua loja e/ou do seu acervo. Como começou, há quanto tempo, qual era a motivação inicial etc.
Eu colecionava gibis, principalmente do personagem de faroeste chamado Tex entre 2005 e 2007. Eu participava de um grupo de discussão sobre o personagem e negociava lá as revistas repetidas e comprava pra completar a coleção. Acabei descobrindo formas de vender pela internet.

Minha coleção já dispunha de mais de 800 gibis. Então, por falta de espaço e um pouco por mudança de interesse, me cadastrei em alguns portais para vender a coleção no varejo. Fiz cadastros em Estante Virtual, Livronauta, Mercado Livre, OLX e depois no Portal dos Livreiros.

A experiência deu certo, consegui vender quase toda a coleção (restam 50 gibis) e então resolvi ampliar o acervo e vender o meu acervo pessoal de livros, cerca de 100. A margem sobre os livros é bem melhor, então resolvi me concentrar em livros. Aí passei a adquirir livros (com o objetivo de revenda) em sebos, bienais, vendas promocionais em shoppings etc.

2. Conte um pouco da sua história pessoal. Qual sua formação, seu histórico profissional. Como chegou até o mercado livreiro?
Eu sou de família pobre do interior do Estado do Ceará. A única forma de mudar de patamar e padrão de vida é por meio dos estudos. Então, me dediquei ao colégio, depois faculdade, e minha formação foi em Ciências Contábeis. Preparei-me para concursos públicos e hoje sou servidor público concursado há mais de 26 anos. Esse fato me fez gostar muito de ler.

Considero o desembolso com livros um investimento em conhecimento e por isso eu disponho de muitos livros, inicialmente com acervo de leitura e depois, pela experiência adquirida, para a venda pela internet, que se tornou um hobby e uma renda extra. Os que compro para leitura consigo recuperar parte do valor, vendendo como "seminovo" nos diversos portais. Mas hoje, como já mencionei, compro também para revenda.

3. Qual é a sua relação com o livro? Sempre leu, ou lê pouco, lia mais, pretende ler ainda bastante? Poderia citar autores de sua predileção?
Minha relação com o livro é o que descrevi na resposta anterior, é um investimento em conhecimento e ampliação de horizontes. Foi por meio de leitura e gosto pela escrita que consegui uma boa formação.

Minhas leituras preferidas são mais técnicas, menos literárias. Gosto das áreas de Administração, Economia, Negócios, Finanças Pessoais e Mercado Financeiro. O meu acervo tem muito dessas áreas. Hoje sou investidor e gosto de me aprofundar nesses assuntos.

Gosto de autores como Nicholas Nassim Taleb, Daniel Kahneman, Richard Thaler, Robert Shiller, Jeremy Siegel e James Rickards. Tenho alguns livros desses autores que estão á venda no Portal dos Livreiros.

4. Como é seu histórico de vendas online? Tem site? Trabalha com mídias sociais? Participou (ou participa) de marketplaces (como o Portal dos Livreiros)? Se participa de mais de um, como avalia cada um deles?
Eu vendo pela internet desde 2007. Já vendi por vários portais como anteriormente citado. A experiência começou em um grupo de discussão no Yahoo. Depois conheci a Estante Virtual e lá é que tenho mais tempo de venda. Mas ampliei para outros portais e hoje vendo no Portal dos Livreiros, no Mercado Livre (inclusive por meio da Integração).

O Portal do Livreiros tem evoluído muito nos últimos meses, tem disponibilizado planos baratos com grande acervo e recentemente implementou essa Integração com Mercado Livre.

No Mercado Livre, os custos, porém, são altos. Recebo muitas mensagens de interessados reclamando do alto valor do frete. Isso inibe as vendas.

O Estante Virtual tem boas tarifas, por ser vendedor de longa data ainda disponho de um plano sem mensalidades e pago 11% sobre as vendas. Lá tem um sistema de notas para o vendedor que facilita o fechamento de novas vendas. E o público é bem amplo, gerando mais visualizações e mais vendas.

O Portal dos Livreiros vem melhorando nesse quesito, mas ainda não alcançou o Estante (pelo menos, não no meu caso).

Não sou tão assíduo nas redes sociais, embora tenha Facebook, Instagram e Twitter.

Há pelo menos um ano, escrevo em um blog sobre investimentos, mercado financeiro, bolsa etc. O nome do blog é Economia de Palito. Bem direcionado para o nicho que eu costumo explorar na venda de livros. Até porque, para escrevermos, precisamos antes estudar - e são esses assuntos que, no momento, têm me interessado.

5. Como vê as transformações do mercado livreiro (desde os antigos sebos até o e-commerce)? Se passou por mudanças, quais foram e como se adaptou a elas?
Acho que o surgimento de marketplaces como Amazon, Magazine Luiza, e outros portais acabou pulverizando bastante as vendas.

No início, os portais aceitavam a modalidade de depósito em conta. Depois, migraram para os meios de pagamento. Já trabalhei (ou trabalho) com vários deles, como Moip, PayPal, PagSeguro, PayU, MercadoPago etc. Adapto-me bem a mudanças tecnológicas e isso não é um problema. Em alguns casos, aumentam os custos, pois temos que pagar 5% para o meio de pagamento, somado às tarifas dos sites. Corrói um pouco a margem, mas dá pra ganhar algo.

Outra mudança foi com a postagem. Antes, os Correios dificultavam o uso da modalidade Impresso para pessoa física. Mas isso está superado, não tenho mais problemas com isso.



6. E o leitor? Acha que ele mudou muito? Ou não mudou tanto? No seu comércio, você trabalha com um perfil de consumidor específico (ou acha isso bobagem)? Como imagina o leitor do futuro?
O perfil de leitor que busco com minhas vendas são como eu: gosta de ler por prazer, para manter-se informado e para um constante aprendizado. Os leitores dos livros nos quais me especializo não têm o preço como definidor da compra. Até pagam mais pela disponibilidade do título, muitas vezes esgotado nas livrarias. Eu gosto de me concentrar nesses nichos, pois a margem é maior.

7. E a leitura? Mudou muito? E o livro eletrônico? E a leitura no celular e em outros aparelhos? Acha que é uma ameaça ao livro de papel? Isso te preocupa (ou acha besteira essa preocupação)?
O leitor do futuro migrará aos poucos para a versão digital dos livros, mas ainda terá espaço para o formato tradicional. Não vejo a substituição definitiva do livro papel. Ainda teremos mercado para o livro tradicional por um longo período.

Mas a internet transforma a forma como lemos. A gente não consegue mais se concentrar em uma leitura linear por muito tempo. Os hiperlinks da internet, que nos permitem pular de um assunto a outro, está transformando o modo como nos informarmos. E textos longos acabam incomodando esse novo perfil de leitor.

Eu costumo ler um livro com um tablet ou smartphone ao lado. E sempre interrompo a leitura para alguma pesquisa ou aprofundamento de algum tópico. A leitura não é mais linear e de única fonte (como antes).

8. Do que você tem na sua loja e/ou no seu acervo, o que você indica para quem está nos lendo? Alguma coisa em especial? Alguma edição rara? Algum livro difícil de encontrar?
Eu indico os livros de Economia Comportamental como, por exemplo, Rápido e Devagar, Duas Formas de Pensar e Nudge – Como Tomar Melhores Decisões sobre Saúde, Dinheiro e Felicidade.

Esses não são raros, podem ser encontrados nas livrarias. Mas tenho outros na área de Administração, Gestão e Negócios que não são tão fáceis de encontrar. Meu acervo é pequeno, entre 400 e 500 itens, às vezes mais, às vezes menos.

9. Como você faz a aquisição de obras para o seu acervo (ou sua loja)? São livros de família? Adquire de pessoas físicas? Compra de editoras ou distribuidores? (Ou nenhuma das anteriores?)
Eu compro em sebos locais, em estandes promocionais nos shoppings, em bienais de livro e também por meio de consultorias financeiras, como Empiricus, Inversa e Suno, que lançam títulos exclusivos para assinantes das suas newsletters sobre investimento. Eu sou assinante de algumas dessas casas, pois tenho estudado sobre investimentos e independência financeira.

10. Qual mensagem você deixaria para quem está nos lendo? Qual é a importância dos livros e da leitura num momento como este? E do comércio de livros? Enfim, qual é a importância do trabalho do livreiro hoje?
A leitura e o aprofundamento é que nos faz aprender de forma consistente. Vivemos numa época hiperconectada que desaprendeu a ler e, consequentemente, a escrever também.

Os livros são uma fonte inesgotável e confiável de conhecimento. Na era das fake news, precisamos ter fontes confiáveis para nos amparar, pois a internet é um meio de se informar, mas há muita informação falsificada, adulterada e de fonte duvidosa. Os livros são mais verdadeiros, confiáveis e melhor fonte de aprendizado.

O papel do livreiro é permitir que outras pessoas acessem livros que, de outra forma, não estariam disponíveis. Muitos deles já fora de catálogo. O livreiro torna o livro vivo, móvel, útil, reutilizável.

O comércio de livros ainda tem espaço para crescer, pois há um contingente grande de leitores em busca de informações, de conhecimento e de fontes confiáveis para tomar suas decisões, investir e viver.

Para ir além
Acesse a Loja ou a Newsletter de Cleudo Lima no Portal dos Livreiros.

Julio Daio Borges
17/4/2020 às 12h36

 

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