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Segunda-feira, 30/1/2006
Marchand da resistência
Julio Daio Borges

Infelizmente, no Brasil, a elite monetária é muito provinciana, brega, são raras as pessoas com um pouco mais de dimensão cultural e muitas vezes humana. Não há espaço na coluna do Cesar Giobbi [colunista social do "Caderno2", do jornal O Estado de S. Paulo] para um cara mal-ajambrado, que não sorri, nem pertence ao círculo do poder. Mesmo se ele for um gênio.

No Brasil, as pessoas apenas se permitem ter uma obra de arte popular, ou de artesanato artístico, nas suas casas de campo ou de praia. Há uma espécie de regra social que determina que é chique você ter aquela peça na casa de campo - talvez porque lugar de arte popular é no campo, não na cidade. Assim como subalterno pode entrar na cozinha, mas não é recebido na sala. Parece ser ranço do nosso passado colonial.

[Riccardo Gambarotto pergunta: "A elite dá importância para o mercado de decoração, não seria o caminho para introduzir o respeito pela arte popular?"] Não sei... É claro que é desejável não só que se amplie o mercado, mas que os próprios decoradores utilizem coisas bonitas. Mas quase não há vida inteligente "nesse planeta". Aqui na Brasiliana trabalhamos com alguns poucos arquitetos e decoradores de exceção, como Marcelo Rosenbaum, Carolina Zabó, William Maluf, Diana Malzoni. Mas, infelizmente, o trabalho da maioria desses profissionais e das revistas de decoração é fechado para as coisas do Brasil.

Sem falar nessa praga chamada Casa Cor - que prefiro chamar de "Casa sem Cor", porque decretou a abolição da vitalidade e da natureza dentro dos ambientes. Eles fazem uma uniformização estéril, enchem os espaços de vazios. São tietes do lixo cultural de Bali, da Índia, da China, e não admitem a grandeza de nossa arte. A maioria dessa turma que eu vejo nas revistas, os nomes celebrados, na verdade, vendem o serviço deles, não importando muito as obras que são utilizadas. A obra de arte virou mero objeto de decoração, ou símbolo de status. E isso foi muito nocivo para os artistas.

Roberto Rugiero, em entrevista na segunda Raiz.

Julio Daio Borges
30/1/2006 às 08h37

 

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