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Terça-feira, 31/1/2006 Oscar 2006: os indicados Marcelo Miranda A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood divulgou hoje os indicados ao Oscar, prêmio mais notório da indústria do entretenimento americana. Os filmes foram todos lançados nos EUA ao longo de 2005 e disputam troféus em 24 categorias. O campeão de indicações este ano foi o drama O Segredo de Brokeback Mountain, já tornado célebre como "o filme dos vaqueiros gays" e vencedor de diversos outros prêmios desde o início de janeiro. Dirigido pelo chinês Ang Lee, concorre a oito estatuetas: melhor filme, direção, ator (Heath Ledger), coadjuvantes (Jake Gyllenhaal e Michelle Williams), roteiro adaptado, fotografia e trilha sonora. A principal disputa do Oscar, a de melhor filme, priorizou totalmente os dramas. Além do filme de Lee, estão no páreo Boa Noite e Boa Sorte, segundo trabalho do ator George Clooney como diretor; Capote, cinebiografia do famoso jornalista Truman Capote, autor do livro A Sangue Frio e um dos "pais" do chamado new journalism (o jornalismo "literário"); Munique, a polêmica versão de Steven Spielberg para a reação israelense aos atentados palestinos nas Olimpíadas de 1972, na Alemanha; e Crash - No Limite, tentativa de Paul Haggis apresentar o preconceito e a intolerância que existe na América.
Pela primeira vez em muito tempo, todos os indicados a melhor direção são responsáveis pelos mesmos filmes finalistas na categoria de filme. É comum a Academia, por impossibilidade de incluir mais produções na briga principal, indicar apenas o diretor - como no ano passado, por exemplo, em que o inglês Mike Leigh teve seu nome selecionado como diretor, mas seu O Segredo de Vera Drake não concorreu a melhor filme. Não foi o que aconteceu hoje: os cinco indicados em direção (Ang Lee, Bennett Miller, George Clooney, Paul Haggis e Steven Spielberg) estão também no páreo de filme. Apesar de Marcas da Violência, recente obra-prima do canadense David Cronenberg, ter injustamente levado meras duas indicações (ator coadjuvante para William Hurt e roteiro adaptado), o maior equívoco deste ano certamente está nas incríveis seis indicações a Crash - No Limite. Como se pode gostar de um filme desses? Teoricamente um libelo contra o racismo, este trabalho de Paul Haggis é incrivelmente artificial, mesquinho, covarde e reacionário, projeto dotado de uma "mensagem" desde o começo e que coloca todos os recursos disponíveis de linguagem, estereótipos e clichês para chegar a um pensamento previamente traçado. Um filme que toma forma não do desenvolvimento de personagens ou enredos, mas das vontades do roteiro, de um esquematismo grosseiro que pura e simplesmente reforça idéias que, a princípio, estão sendo combatidas na tela. Amordaçado pelas tentativas forçadas de provar sua "tese", Crash - No Limite torna-se pateticamente frágil - mas parece ter conseguido tapear um monte de gente, inclusive pessoas entendidas de cinema que caíram nas armadilhas de Haggis. Lamentável.
P.S. - o brasileiro 2 Filhos de Francisco não disputa na categoria de melhor filme estrangeiro. Os indicados foram Don't Tell (Itália), Paradise Now (Palestina), Merry Christmas ou Joyeux Noël (França), Sophie Scholl - The Final Days (Alemanha) e Tsotsi (África do Sul). Marcelo Miranda |
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