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Domingo, 10/3/2024 Caminhos para a sabedoria Celso A. Uequed Pitol “É possível a poesia após Auschwitz?”, perguntava, em 1949, um estarrecido Theodor Adorno. Uma dúvida pertinente para quem escrevia quatro anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e vivia em uma Alemanha social, econômica e moralmente devastada. Naquelas condições, caberia também perguntar: e a filosofia, é possível? Seu compatriota e contemporâneo Karl Jaspers acreditava que sim. E tanto acreditava que, naquele exato ano de 1949, mesmo diante dos escombros dos bombardeios, da miséria dos sobreviventes e da prostração de uma nação derrotada, encontrou forças para organizar doze palestras radiofônicas, veiculadas pela rádio Basel, da Suíça, versando sobre temas como as origens e os fins do ser humano, a ideia de Deus e a natureza da fé. A partir do conteúdo dessas palestras foi publicado "Caminhos para a sabedoria", que a editora Vozes lança agora em português (196 páginas, tradução de Cláudia Dornbusch) . Não é fácil classificar um livro produzido de forma tão heterodoxa e em circunstâncias tão especiais: seria uma introdução à filosofia? Sim e não. Jaspers não segue, aqui, o itinerário típico de muitas obras propedêuticas, que apresentam os problemas mais recorrentes na história da filosofia e o tratamento a eles dado pelos pensadores de todas as épocas. Em vez disso, “Caminhos para a sabedoria” promove uma iniciação ao ato de filosofar tal como Jaspers o entende, isto é, como uma atividade integrada à própria essência do humano. Ressalte-se, aqui, o plural usado no título – “caminhos” -, indicando que há muitas vias para se alcançar a sabedoria filosófica. À diferença da ciência, que busca certezas a partir de conhecimentos acumulados ao longo do tempo – pressupondo, portanto, a existência de só um caminho, com um único sentido, das primeiras descobertas científicas até as atuais -, a filosofia não segue uma linha evolutiva e não tem um ponto de chegada pré-definido. Nas palavras do próprio Jaspers, é a busca da verdade, e não sua posse, que dá valor à filosofia. O que, de certa forma, garante que ela não apenas será sempre possível: será, também, sempre necessária. Onde encontrar: www.vozes.com.br Celso A. Uequed Pitol |
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