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Terça-feira, 25/4/2006 Cinema e vídeo em Cuiabá Fabio Silvestre Cardoso De acordo com um dos participantes, apesar de não ter a mesma importância de outras mostras (como a de Brasília e a de Gramado), o Festival de Cuiabá se destaca por não ter sido "pulado" desde seu início. Assim, sua 13º ocasião é a consolidação de um trabalho - isso num país que sofre com a falta de prosseguimento de determinados projetos, sobretudo os culturais. Na programação, serão cinco dias de sessões, debates, palestras e, pelo que se viu ontem, de contatos para novas incursões na seara cinematográfica e também audiovisual. No primeiro curta, a proposta - conforme explicou Guilherme Ramos, o representante da produção - é apresentar histórias que uma avó contaria à sua neta caso ela não obedecesse e não quisesse dormir. A dicotomia é clara: a produção fica entre a sátira e o terror. Mas como o primeiro é mais eficaz, melhor observar sob essa perspectiva, até porque o terror é uma observação irônica ao fato de boa parte das histórias para ninar sempre se fixar em um universo água com açúcar, leve. A inventividade, desse modo, fica por conta da animação que, de fato, eleva a simplicidade da narrativa. Já em Rap, o canto da periferia, Ardiley Queiroz se propõe a mostrar o outro lado do Distrito Federal, mais precisamente a Ceilândia, principal cidade-satélite dos arredores de Brasília. É curioso notar, aliás, como o próprio diretor se confunde com a história do filme. "Não sou de Brasília, sou do Distrito Federal", afirmou ele em conversa com este repórter. E o curta, de fato, tem o mérito de mostrar uma cidade invisível aos olhos do cinema e do vídeo oficiais. Mais estranho: ninguém chega a se espantar com tamanha exclusão. A novidade é que, pela primeira vez, as vozes daqueles moradores foram ouvidas e registradas. Do mesmo modo, os entrevistados-personagens contam histórias inéditas sobre a Ceilândia, assim como a trajetória de cada um no lugar. A obra é bastante contundente. Pena que essa força se distancie do propósito inicial. Em outras palavras, intencionalmente ou não, o curta passa a tratar quase que única e exclusivamente de discriminação racial. Um dos entrevistados, o rapper X, do Câmbio Negro, conseguiu arrancar aplausos da platéia que lotava a sala de cinema do Multiplex com um discurso racista sobre... o racismo. Contradições à parte, o rap não só sustenta, mas é a própria matéria que dá agilidade em todo o curta. Confira aqui a programação de hoje. Fabio Silvestre Cardoso |
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