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Quinta-feira, 25/5/2006 O Brasil é um seresteiro Marília Almeida A adaptação é de Maria Helena Martinez Corrêa, irmã de Luiz Antônio Martinez Corrêa, assassinado em 1987, diretor do bem sucedido Theatro Musical Brazileiro, espetáculo dividido em duas partes que visava resgatar a história do teatro musicado. Após encontrar o roteiro e indicações de atores que seu irmão pretendia reunir para a nova montagem do espetáculo, pouco depois de sua morte, Maria Helena entregou a direção da opereta a Paulo Betti, que já dirigiu mais de 15 peças teatrais, entre elas Feliz Ano Velho. Porém, até 1994, Maria Helena procurou as partituras da montagem original, de Henrique Vogeler, autor do primeiro samba canção brasileiro. Até que lhe foi doada por French Gomes da Costa, frequentador do antigo teatro musicado. Porém, na mesma noite, também recebem a visita de três personagens "mal-encarados": o violão, cavaquinho e flauta, encenados, respectivamente, pelos músicos Wladimir Pinheiro, Thiago Tomé e Janaína de Azevedo. Eles resolvem sequestrar a Canção para que seja criada no morro junto com o samba, que também acabara de nascer. Mas o futuro reserva surpresas e a ambição da Canção a levará a procurar novos horizontes e se afastar do amor dedicado do samba. Apesar da estrutura encantadora, o que mais se destaca na peça são realmente seus atores. Eles cantam com primazia, dançam coreografias milimetradas, tocam instrumentos durante todo o espetáculo e realmente incorporam cada instrumento ou ritmo que representam. Carol Futuro chama a atenção no papel de Valsa, com biquinhos e ar infantil. Já Erom Cordeiro, na pele do Tango, fala um espanhol impecável e seus trejeitos argentinos são eficientes. O mesmo se pode dizer de Mariana Betti, que surpreende e passa de papéis meramente figurantes e sem falas até o meio da peça para aparecer em primeiro plano e encenar com perfeição a sedutora Charleston, com sotaque americano impagável. As canções que entonam e permeiam todo o espetáculo bebem em várias fontes e se configuram em adaptações dos maiores hits do samba-canção. O trio de músicos-atores é complementado pelo piano de Roberto Bahal, o violoncelo de Saulo Vignoli e clarineta de Vinicius de Carvalho. Há ainda no espetáculo a introdução de referências sobre a escravidão, o preconceito negro, o embate da elite e "o morro", a influência da cultura francesa e até uma pequena discussão sobre o estrangeirismo na língua portuguesa, veemente na época. A opereta chega a São Paulo em curtíssima temporada no Sesc Santana, até dia 28 de maio, após temporada carioca em setembro do ano passado. Depois da direção de A Canção Brasileira, que se configurou em seu primeiro musical, Paulo Betti pretende aprofundar sua incursão no cinema nacional e levar o espetáculo para a tela grande. Vale a pena conferir e aguardar o filme. Marília Almeida |
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