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Terça-feira, 20/6/2006
Perdemos Bussunda
Tatiana Cavalcanti

A Copa do Mundo ficou mais triste para nós brasileiros, logo nós, o povo mais sorridente de todas as nações. Manhã de 17 de junho, sábado, véspera do jogo da seleção brasileira contra a Austrália, morre em Parsdorf, a 16 quilômetros de Munique, Alemanha, o humorista Claudio Besserman Vianna, o Bussunda, fundador do programa global, Casseta e Planeta, a oito dias de completar 44 anos. A sua morte foi totalmente inesperada e um choque para todos nós, que ficamos órfãos do riso, pois perdemos um dos mais geniais humoristas da atualidade. Perdemos, para um ataque cardíaco fulminante, o motivo nosso de sorrir de cada terça-feira.

Ronaldo Fofucho, Lula, Baleíssima, Marrentinho Carioca... foram tantas caracterizações inesquecíveis. Isso só para citar as mais recentes. O brutamontes Montanha, grandalhão, com pinta de roqueiro heavy metal, parceiro de Massaranduba, que ia dar porrada. Jeca Camargo, que satirizava o repórter do Fantástico, Zeca Camargo. São tantos e incontáveis personagens que farão falta. O piadista genial, caçula dos Casseta, era também o redator, o criador da maioria das piadas tão inteligentes que nos faziam rolar de rir no programa semanal Casseta & Planeta.

O programa vai acabar? O que vai acontecer agora? Quem vai imitar o presidente Lula e o Ronaldinho? Ou é o Ronaldo Fenômeno que vai imitar o Bussunda (que maldade)? São tantas as perguntas que vieram à tona, mas fica o mistério. Pode até parecer insignificante para alguns, mas a perda de Bussunda vai deixar um vazio enorme nos corações dos brasileiros, e também no humor nacional. Haverá alguém do seu calibre, do seu talento? Quem nos fará rir agora? Poxa, Bussunda, por que você nos abandonou tão cedo? O povo brasileiro também dependia de suas piadas para entender a situação do país. Muitas vezes fiquei sabendo de notícias atuais através do programa Casseta & Planeta. Bussunda era nosso tradutor, porque só rindo mesmo para suportar tanta injustiça num país lindo e cheio de potencial como o Brasil.

O Fantástico, programa da mesma emissora de Bussunda, mostrou nesse domingo o enterro de Claudio, os familiares presentes, os amigos anônimos, famosos, e os parceiros de trabalho, os Cassetas Reinaldo, Claudio Manoel, Beto Silva, Marcelo Madureira, Hélio de La Peña, Hubert e Maria Paula, todos chorando, tristes e inconsoláveis. A Rede Globo exibiu, em quadros rápidos no meio do programa, algumas das performances do humorista ao longo dos mais de dez anos do programa semanal. Até ai tudo bem, até porque isso é jornalismo. Entretanto, foi seco, frio e distante. Nem parecia se tratar de um colega da emissora.

Para falar em Bussunda isso era muito pouco. Eis que aqueles rapazes debochados, que começaram no rádio e que foram para a televisão, que comem o pão que o diabo amassou para entrar nos lugares em que a Globo tem fácil acesso, que nitidamente se inspiraram no programa Casseta & Planeta, reconhecem e reverenciam o valor daquele humorista que lhes ensinou muito.

Bussunda pertencia à Rede Globo, mas quem fez uma belíssima homenagem foi o programa Pânico na TV. Que vontade de chorar ao ver a última entrevista do humorista do Casseta & Planeta ao Vinicius Vieira, que faz o Gluglu, Mano Quietinho, Alexandre Broca e, na ocasião, o Casagrande do programa Pânico. O repórter da Rede TV! insistia incansavelmente em falar com o humorista horas antes de sua morte. Bussunda estava sentado dentro de uma van e esperava o seu colega Hélio de La Peña finalizar a entrevista ao programa da outra emissora, quando Vinícius pergunta: "Cadê o Bussunda? Quero falar com ele!". Sempre bem humorado e disposto, Bussunda disse que se sentia cansado, mas "Casagrande" insistiu, como se soubesse que aquelas seriam as últimas palavras de Claudio Besserman Vianna num microfone, instrumento que segurou tantas vezes ao longo da brilhante carreira. Mesmo demonstrando o cansaço, Bussunda sorriu, brincou e deu seu show de sempre na última entrevista da vida. As lágrimas vieram aos meus olhos e segurei o choro. Isso sim era uma homenagem, simples e honesta. Parabéns ao Pânico na TV, que são muitas vezes injustiçados, mas que sabem ser autênticos.

No jornalismo não se deve usar adjetivos, entretanto Bussunda, dentuço e obeso, era divertido, inteligente, politizado, culto, carismático e "lindo", de tão feio que era. Não sei mais o que serão das minhas terças-feiras, sei que darei menos risadas, entretanto o legado que ele perpetuou a nós é riquíssimo. Ele nos deixou sorrindo e fazendo rir. Bussunda deixará saudades.

Nota do Editor
Leia também "Por que votar em Bussunda?"

Tatiana Cavalcanti
20/6/2006 às 09h13

 

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