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Quinta-feira, 29/6/2006
A polêmica da leitura labial
Marcelo Miranda

Parreira

O Fantástico realizou um dos seus quadros mais criativos e divertidos no domingo passado. Ao contratar um grupo de surdos-mudos para fazer leitura labial de jogadores da seleção e do técnico Carlos Alberto Parreira, o programa dominical inovou e ousou no que existe de mais simples: o que dizem as pessoas "ao natural". Pois Parreira não gostou. Acusou a emissora de invasão de privacidade e se disse chateado. A reação da Globo conseguiu ser mais boba que o comentário de Parreira: o diretor de Esportes, Luiz Fernando Lima, telefonou ao técnico e se desculpou pelo quadro em nome da emissora.

A atitude provocou um pedido pessoal de demissão do diretor do Fantástico, Luiz Nascimento, prontamente negado. Ainda assim, Nascimento deve voltar ao Brasil e se recusa a continuar cobrindo o campeonato. A atitude do diretor pode ter sido exagerada, mas o motivo era dos mais justos. Afinal, como dizer que houve invasão de privacidade na fala de um técnico de seleção de futebol que cochicha, grita e gesticula num estádio onde estão milhões e milhões de pessoas? Como dizer que Parreira teve a intimidade invadida se ele, esperto como é, sabe muito bem que está sendo filmado (e pode estar sendo ouvido) durante cada segundo de jogo?

E uma questão mais "grave" e na qual, aparentemente, ninguém tocou: o que Parreira tem a esconder pra se sentir tão ofendido quando suas palavras se revelam? É segredo ele demonstrar alegria com as jogadas de Ronaldo? É sigiloso ele reclamar do desempenho de algum outro jogador? É top secret ele se dirigir aos assistentes e soltar um palavrão ou dar instruções em campo? Simplesmente não dá pra entender a revolta do técnico.

Ou talvez dê. Parece que Parreira se sente tão dono de si, tão mestre da verdade e tão prepotente na sua certeza de tudo que se dá o direito de questionar o inquestionável. Algo como Ronaldo querer bater boca em público com ninguém menos que o presidente da República, naquela desnecessária saia-justa sobre bebidas e gordura. No saldo final, a impressão é de que a turma de Parreira (com honrosas exceções) é um bando de crianças mimadas e pirracentas.

Marcelo Miranda
29/6/2006 às 08h17

 

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