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Segunda-feira, 7/8/2006
Gênios da vida real II
Julio Daio Borges

Fiquei emocionada com a mensagem da sua leitora. Parecia minha história. Também fui superdotada em criança, também fiz teste de QI por sugestão de psicólogos (escrevia ao contrário, montava quebra-cabeças de cabeça para baixo, porque do jeito comum achava muito fácil) e estourei todos os limites do teste para crianças, fui ao máximo, que era 18 anos, algo assim, pelo que conta minha mãe, eu não lembro. Sofri muito a vida inteira me sentindo uma E.T.: entendia tudo mais rápido do que os outros e achava a escola um saco. A faculdade idem. Entrei e sai de várias e me formei em jornalismo mas nunca exerci. Tinha fama de gênio excêntrico e muita gente me temia um pouco apesar de nunca ter sido agressiva, só diferente. Cobrei demais de mim e acabei não realizando o que pretendia. Nunca tentei suicidio, mas vivi em psiquiatras por causa de angústias, fobias, delírios pessoais. Casei, descasei, tive muitos amores mas não consigo me relacionar bem com ninguém, sou diferente demais para isto. Desisti. Fui artista plástica anos e cheguei a ter algum sucesso, matéria em jornais, participei de salões famosos e de uma bienal. Larguei tudo para ser escritora, sou conhecida em um nicho na Web, tenho um blog literário e me sinto feliz escrevendo - me acalma. Pretendo publicar um livro, já tenho vários prontos. Meu problema é paciência para realizar. Sou "mental" demais para o real. Paz é coisa rara para mim. Adoro resolver problemas de lógica dedutiva e romances policias de dedução. Isto também me acalma. Tenho uma filha que amo e que consegue se relacionar com esta figura complicada. Enfim, eu concordo plenamente com a leitora. A inteligência me fez sentir orgulho algumas vezes, o que não significou felicidade alguma e me fez sempre diferente, alguém que muitas vezes escreve coisas simples que os outros não entendem. Desisti de tentar ser entendida. Os que me amam, eu amo. Os outros são de outro planeta. Algum dia construo um foguete e chego lá. Ou, não. Não quero ser identificada, enviei a mensagem apenas porque parecia a minha vida.

De outra Leitora, que também prefere ficar anônima.

Julio Daio Borges
7/8/2006 às 09h52

 

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