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Sábado, 12/8/2006 FLIP 2006 III Julio Daio Borges Meu colega de e-mail, Christopher Hitchens, se portou muito mal na mesa que acabou de acabar, com Fernando Gabeira. Já resolvi que vou dar uma bronca nele, quando ele chegar aqui, logo mais, na sala de imprensa (para checar suas mensagens - e ser vaiado...). Realmente, não foi legal: chamou Gabeira de terrorista e tal. "I know some people", insinuou para ele, quando Gabeira revelou que não entrava nos Estados Unidos, porque estava proibido, mas que não se importava, porque podia entrar de outras formas - culturalmente falando... Depois, ironizando, finalizou: "I know some [other] very nice terrorists...". Merval Pereira, o jornalista que mediava, com toda a experiência de participação no Roda Viva (é com hífen?), ficou gelado... E ignorou o Hitchens quando este tentou "elevar o nível do debate" evocando as questões de ontem, na outra mesa em parceria com a Revista Piauí: "Não haverão perguntas sobre jornalismo e/ou reportagem? Eu adoraria discutir se a reportagem é uma forma de arte...!". Mas já era tarde demais. A Carol, apesar do calor do debate, "desmaiou" (de sono) depois do almoço e seguiu para a pousada. Eu saí sozinho, no fim da mesa, sem saber se eu tinha entendido direito. Parece que sim: o Hitchens chamou o Gabeira de "terrorista", no sentido mais absoluto da palavra, ignorando toda a sua trajetória política posterior, e deixou no ar a impressão de que "discutir (ou debater) com terroristas" é sempre uma perda de tempo. Como discutir com fundamentalistas (com essa parte eu concordo). A impressão geral foi de que o Hitchens apelou para a ignorância, quando não precisava... Engrossou no debate sobre a atual guerra do Líbano e se recusou a responder a perguntas da platéia porque as considerava muito "naïf" (em francês) ou "naive" (é assim que se escreve em inglês?): inocentes, ingênuas. Tudo bem que algumas das perguntas da platéia da Flip, efetivamente, não são lá muito elaboradas, mas não precisava se irritar tanto. ("Eu não sou tão apaixonado por essas questões", o Gaberia, de repente, ponderou...) Hitchens, não contente, disparou contra a audiência: "Don't be so fucking sure" (sobre os palestinos quererem a paz...). Classificou, ainda, um argumento de simplesmente "idiota". Então eu resolvi colocar Tom Jobim no meu iPod para escrever aqui. Toca muito "Bonita" na Flip. Não sei por quê. Acho que ficaria legal se tocasse também "Surfboard", que combinaria bastante com o clima meio circense da Flipinha. Mas, enfim, com "Bonita" eu lembrei da Candice Bergen (é assim?), para quem, dizem, o Jobim fez a canção depois de cantá-la (e conquistá-la?) num avião. A Elis Regina gravou mas não gostou do seu sotaque (em 1974). Tinha razão. Hoje, a maioria das cantoras não liga muito por "gravar em inglês errado". ("Eu canto em português errado/ Acho que o imperfeito não participa do passado/ Troco as pessoas, troco os pronomes...") Pensei, ainda, no Tarso de Castro. Outro dia, eu e a Carol tentamos lembrar do nome daquela beldade que ele dividiu com Roberto Carlos... Alguma coisa com "Amélia" no meio... Diz a lenda que eles disputavam a moça e o Rei, a tendo conquistado (sei que o pronome soa estranho nesse lugar), compôs "Detalhes", com a seguinte ameaça a Tarso, o rival: "Se um outro 'cabeludo' aparecer... A culpa é sua!". E por falar em "Bonita", todas as mulheres ficam meio desmontadas (o termo é da minha família) na Flip. Muito calor, as ruas sem calçamento (vale repetir: qualquer cronista vagabundo menciona as "ruas sem calçamento") de Parati... Aqui, você encontra aquela temível assessora de imprensa toda mansa, porque resolveu andar de chinelo, seu pé está todo sujo de terra (marrom, com as unhas vermelhas - uma beleza), seu cabelo está todo grudento (em gomos), e sua roupa já está toda amassada ou pregada no corpo. Em Parati, no calor e no corpo-a-corpo (o mesmo dos políticos), ninguém permanece impune. Você tromba com os amigos e desvia, sempre que pode, dos inimigos. Amigos me reconhecem na rua e gritam: "Eu sabia que você estaria aqui!". Tentei combinar, outras vezes, com vários, mas não consegui. Em compensação, já vi o Mirisola uma dez vezes, ele vive pegando e-mail na sala de imprensa. E o Marcelino Freire vive acompanhando as "notícias". Quem montasse um site tipo Caras (ou Babado) de literatura, durante a Flip, iria faturar alto... Voltando às mesas, a da Lillian Ross e do Philip Gourevitch (ontem) foi boa, mas não foi ótima. Ela um pouco impaciente pela idade avançada; ele tentando explicar em minúcias coisas que as pessoas deviam procurar em seus livros e, não, numa palestra... A introdução foi do João Moreira Salles, com toda a pompa e circunstância, frisando a parceria com a revista Piauí, que sai em outubro, mas que já estava sendo distribuída em forma de "numero zero" na cadeira das pessoas. Carlos Graieb, da Veja, na mediação bolou uma espécie de entrevista, em inglês, mas achei que eram figuras muito distintas para responder às mesmas perguntas; e, freqüentemente, não concordavam. Lillian Ross, conforme foi mencionado, ingressou na New Yorker em 1945; Gourevitch ingressou na mesma revista, só que em 1995 - 50 anos entre uma pessoa e outra... já dá uma idéia da diferença. Não sei se foi erro da organização, talvez - o Daniel Piza acha que não. E eu concordo: sua entrevista prévia, no Estadão, com a senhora Lillian, ficou melhor. Muita gente querendo saber sobre Hemingway, que Lillian Ross perfilou, quando tinha 20 e poucos anos (hoje é uma velhinha simpática, que não consegue caminhar sem a ajuda do filho). "He was one of a kind" - alguém como nunca nasceu antes e como nunca nascerá mais. Palavras dela. Falando e escrevendo. Depois, o Graieb pediu para ela definir "talento", "genialidade", não só em Hemingway, mas em um texto jornalístico (sua especialidade). A senhora Ross perdeu a paciência e falou que essas coisas não se definem com fórmulas, você apenas lê e sabe. Gostei! O relativismo, nessas discussões, geralmente parte de quem não tem talento, não tem gênio e fica teimando em dizer que é tão bom quanto fulano, beltrano, sicrano... Não se conforma e fica procurando argumentos "lógicos"... Como disse o Ferreira Gullar hoje (já havia dito em uma entrevista): alguns nascem poetas; outros simplesmente não nascem - o que não é nenhum demérito, o mundo precisa de todas as pessoas, de todos os tipos... "É moda, hoje, falar que todo mundo é artista (ou pode ser), mas não é verdade" - Gullar encerra. Ontem à noite, saímos finalmente para jantar com amigos. É interessante ver a Flip pelos olhos das pessoas de fora. Já expliquei muitas e muitas vezes como funciona aqui; muito pouca gente entende. E, mesmo que entendesse, quando visse, perceberia que nem sempre bate com a explicação. Também já desisti de explicar. Dou linhas gerais; dou exemplos. As pessoas também querem saber dos "famosos". "Já viram alguém famoso?". Ficamos pensando... Quem, por exemplo? A Maria Bethânia? Perdemos o show dela na quarta-feira... "Ah...! Mas tem também aquela jornalista velhinha..." A Lillian Ross? "Siiim!". A imprensa (impressa ou não) ainda tem força para indicar, para as pessoas, quem são os "famosos" (mesmos que elas nunca tenham ouvido falar)... Para essas pessoas, antes da Flip, a Lillian Ross era uma completa desconhecida. Enfim... E todo mundo abre o jornal no dia seguinte para "se situar". As pessoas vêem as mesas mas não conseguem julgar por elas próprias, têm de conferir, no dia seguinte, a repercussão... E por falar em imprensa (impressa ou não), o Sérgio Rodrigues, do No Mínimo, acaba de sair daqui do meu lado, xingando... Não, eu não fiz nada. Acontece que ele digitou um post inteiro para o blog dele, Todo ou Toda Prosa, e perdeu. Quem nem o Christopher Hitchens naquele dia (ou não). Eu sugeri o Gmail, mais uma vez (o Google devia me pagar por isso), mas ele estava tão nervoso que não quis me ouvir... O interessante é que ele falava mal do Hitchens (tá, eu li um pouco do post...). Começava dizendo que Hitchens fez o que se esperava dele: polemizou, xingou a platéia, defendeu Israel, atacou a Palestina... Não, infelizmente, não li, nem decorei, o resto do post. Última coincidência de hoje: antes dele, estava sentada aqui ao lado a Sônia Rodrigues. Desconfio que é a mesma sobre a qual escreveu a Adriana... A filha do homem! Devia ter perguntando, como perguntei em 2005 ao Jabor, o que teria dito Nélson sobre tudo isso?! Sérgio e Sônia, para terminar, têm sobrenome "Rodrigues" e a primeira parte do e-mail dos dois é igual: srodrigues... Agora coloco os links [poucos hoje]. Julio Daio Borges |
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