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Terça-feira, 15/8/2006 Molloy, de Beckett Marília Almeida Pensemos em espaços parcamente falados, nas companhias teatrais parcamente criticadas ou espetáculos pouco valorizados no concorrido circuito teatral de São Paulo. A Cia ânima Dois, o Viga Espaço Cênico e o espetáculo Molloy são apenas um deles. Em uma apresentação no injusto horário de domingo à noite para uma peça outsider, o denso monólogo é baseado no romance de mesmo nome do aclamado escritor e dramaturgo irlandês Samuel Beckett, cujo centenário foi comemorado mundialmente este ano. Ele faz parte de uma trilogia escrita no período pós-guerra, o que talvez explique seu extremo niilismo. O espetáculo surpreende ao se revelar uma pantomima, onde os gestos corporais e sons guturais tomam o lugar da voz do ator. "O fim está no começo e, no entanto, continua-se" é o mote de Molloy, que busca um diálogo inovador para um texto não teatral ao utilizar recursos como bonecos, animação de objetos e máscaras. Estes recursos, além da boa atuação do protagonista, conseguem tencionar indefinidamente, sem entediar, uma narrativa pesada e repetitiva. Seu cenário consiste apenas em uma cadeira de onde brota uma pequena árvore, além de bagagens de onde Molloy retira suas lembranças infantis e objetos toscos que ganham status de idolatria. E quem é este protagonista? Um velho louco? Ou apenas um saudosista que foi engolido pela triste realidade mundana? Nada pode ser afirmado com certeza no teatro do absurdo beckettiano. O ator Alexandre D'Angeli é responsável por, nada mais, nada menos, que o roteiro, direção, confecção do boneco, máscara, manipulação, iluminação e interpretação solo. Destaque para sua preparação corporal, feita por Carlos Gomiero, além da sonoplastia, essencial ao espetáculo e feita pelo próprio Alexandre em parceria com Andréa Amparo. Uma mistura de sons eletrônicos modernos com músicas clássicas teatrais que muda constantemente, de acordo com o humor inconstante de Molloy. A montagem estreou em outubro de 2003 e já fez três temporadas em São Paulo, participou de vários projetos que investigam experimentos e o desenvolvimento de novas linguagens nas artes cênicas. Além disso, recebeu três prêmios no IX Festival de Monólogos da Bahia e recentemente esteve na VII Mostra Cariri das Artes. Em abril, participou de Samuel Beckett - 100 Anos, no Sesc Santana. Inaugurado em novembro de 2003, o Viga Espaço Cênico apresenta propostas diferenciadas de teatro, dança, música e artes plásticas. Situado em um antigo galpão do bairro de Pinheiros, tem como objetivo receber idéias instigantes e atuais. Ele é atingido com a apresentação de Molloy. Sua Sala Porão, destinada a espetáculos intimistas, com lotação máxima de 20 pessoas, contribui muito para a eficácia do espetáculo. Para ir além De 04 a 27 de agosto Sextas e sábados às 21hs (domingos às 19hs) Preço: R$ 20,00 (meia: estudantes, idosos e classe teatral) VIGA Espaço Cênico Rua Capote Valente, nş 1323 (próximo ao metrô Sumaré) Telefone: (11) 3801-1843 Marília Almeida |
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