O Alexandre Matias me mandou o link por MSN e eu quis, também, participar. A rigor, é um "especial" dentro do site do Trama Universitário (TU) só para blogueiros e blogs — mas como eu acho que o Digestivo também é "autopublicação", decidi incluir ele lá... As perguntas, agora nas mãos da Tatiana Dias, foram bem feitas e geraram depoimentos muito interessantes. Ao final, linco ainda para duas listas de bons blogs (e de bons blogueiros) que, eu penso, deveriam estar lá. (Se você sabe de mais alguém, ou quer simplesmente participar, entre em contato.) — JDB
1. Por que se autopublicar?
A questão talvez seja: por que não? Muitas pessoas ainda não perceberam que não precisam mais viver sob o jugo da velha mídia para se informar, para formar opinião, para discutir idéias. Muita gente ainda reclama da televisão, do rádio, da revista e do jornal impressos, mas também ainda não percebeu que não precisa consumir mais nada disso, que existem incontáveis opções de novas mídias na internet — e que, se a pessoa ainda assim não estiver satisfeita, poder criar, desenvolver e fazer acontecer a sua própria mídia. Diante desse quadro, autopublicar-se é quase uma obrigação.
2. Você acha que o ambiente universitário ajuda a formar o espírito crítico? Como foi para você?
Comigo foi uma decepção, por isso, conseqüentemente, não acho que o ambiente universitário — pelo menos o que eu conheci (a Politécnica da USP dos anos 90) — ajude a formar espírito crítico. Por outro lado, a época da universidade, normalmente, é aquela em que as pessoas estão com a cabeça mais aberta, ainda jovens e interessadas em conhecer o "novo" (nem que seja o novo só pra elas), e em ter "novas" experiências (novas só pra elas talvez...). Assim, embora eu não guarde boa recordação do meu ambiente universitário, acredito que pode ser, sim, um período muito rico, para experimentar e para formar espírito crítico.
4. Qual é a melhor e a pior coisa desta época de transformações?
A melhor coisa é vivê-la, fazer parte dela. Juro que não entendo essas pessoas que estão vendo a revolução acontecer e que ainda conseguem ficar sentados no sofá com um ar blasé — sem participar, de alguma forma, deste momento. E a pior coisa talvez seja, justamente, alguns setores que insistem ainda em dizer que "está tudo igual", que essas transformações "não são tudo isso" e que, a rigor, "nada mudou"... Quando as tecnologias estão devorando umas às outras, as mídias nascem e morrem todos os dias, e a comunicação, de virtualmente "todos para todos", é algo sem precedentes na História humana.
5. E qual é o seu papel — e da sua publicação — nesse contexto?
Nosso papel aqui (posso falar no plural?) é expandir os limites do jornalismo cultural. Desde a seleção de novos talentos, como eu já disse, até o encontro de novos Leitores (que as publicações tradicionais nunca atingiram), até a formação de novas bases de sustentação para que o jornalismo cultural — pela primeira vez na história do Brasil — seja um negócio lucrativo. Por enquanto, estamos conseguindo. No final das contas, não é "missão" da internet, mas ela está colocando abaixo todo o sistema (establishment) — todo o "cartel de entretenimento", como diz Dan Gillmor. É uma mudança cultural que só não vê quem quer. E nós estamos nela!
Essa revolução silenciosa deverá tirar muita gente do sofá, e incentivá-las a se integrar nesse movimento. Apesar do ambiente; seja universitário ou empresarial, político ou religioso. A integração da informação instantânea ao nosso cotidiano está fazendo essa revolução mencionada. Quer um exemplo? Se você é instigado a ler uma história que se passa na Birmânia, no período que abrange os dois últimos séculos, haverá uma grande chance de decepção com algumas ou todas as descrições. Qualquer descrição exige algum conhecimento prévio para organizar a sua mente. Certo? E como fazer? Algum tempo atrás, nada poderia ser feito a não ser uma viagem ao lugar e "viver" a história. Hoje você, eu, quase todos temos acesso ao lugar, ao tempo e às imagens que foram arquivadas. Basta subir à rede. Antes isso servia apenas para incentivar o levantador ou atacante da equipe de vôlei. Hoje todos podemos subir à rede. O ar blasé não está com os dias contados. Mas quase todo o resto está.