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Segunda-feira,
16/4/2007
Goooooooooool!!!
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- Viu, querida? Hoje pode ser o dia.
- Dia de quê?
- Do gol.
- Gol? Que gol?
- O milésimo gol do Romário.
- Tá, e daí?
- E daí que são uma data e um feito históricos.
- Tô te estranhando, amor. Onde está o homem com que eu me casei e que não gostava de esportes? Não foi você mesmo que disse que o esporte é apenas um substituto da guerra e que, num país como o nosso, era melhor termos uma guerra civil do que um bando de campos de pelada?
- Tá, fui eu, mas a cobertura da mídia meio que tá me mobilizando.
- Mídia? Você anda lendo caderno de esportes? Não foi você que disse que o maior feito do jornalismo esportivo brasileiro foi...
-.o Fernando Vanucci ter pego quatro capas de Playboy. Tá, fui eu, culpado. Mas é que, na iminência de um fato como esse, eu fico pensando nos nossos filhos.
- Querido, não sei se eu preciso te avisar isso, mas nós não temos filhos.
- É, sei, mas quando tivermos, o que vai acontecer se o nosso filho me perguntar sobre o milésimo do gol do Romário?
- Ué, diz a verdade. Fala que passamos o domingo fazendo o que sempre fazemos.
- Não, não acho que vai ficar legal dizer que um grande acontecimento esportivo estava acontecendo na nossa cidade e nós passamos o dia inteiro deitados, lendo jornal e assistindo a reprises de seriados na TV a cabo.
- Então, o que você vai fazer? Vai pro Maracanã? Essa eu gostaria de ver.
- Ei, péra lá, eu já fui no Maracanã. Três vezes, mas fui.
- É, mesmo? A que jogos você assistiu?
- Bom, jogo mesmo só um.
- E das outras vezes?
- Bom, eu fui ver a chegada do Papai Noel. Mas isso não vem ao caso. Eu queria mesmo era poder contar para os nossos filhos uma história como a que meu pai me contou sobre a copa de 50.
- Lá vai.
- Pô, você acha que é besteira? Até o hoje eu me lembro do relato do meu pai sobre a final de 50. Como o Brasil começou ganhando e os argentinos.
- .uruguaios.
- Isso, e os uruguaios vieram pro Brasil cheios de garra. Teve até aquele jogador, o Gigio.
-.Ghiggia.
- Isso, Ghiggia, que arrancou um pedaço da grama e comeu. E, pra
terminar, o relato de como o Maracanã inteiro se calou e todos partiram em silêncio, deconsolados, para casa.
- Tá, é uma história bonita e tal, mas você não é seu pai.
- Eu sei, mas é como se eu devesse passar uma história dessas pra frente. É uma espécie de tradição.
- Então, o que você vai fazer? Vai ao Maracanã?
- Bom, acho que aí já é demais. Encarar metrô e aquele povo todo, além de perder um dinheiro nas mãos dos cambistas, não me anima muito.
- Você vai conseguir mesmo assistir a esse jogo inteiro na TV?
- É, jogo é um troço chato mesmo. Copa ainda vai, que é pretexto pra festa, mas assim de bobeira não sei se vai dar. É, me sinto meio numa obrigação mas não sei o que fazer. Ah, se um dia nossos filhos nos perguntarem sobre isso, tô ferrado.
- Tá não, amor. Faz a mesma coisa que o teu pai fez contigo.
- O quê?
- Mente.
Postado por Lisandro Gaertner
Em
16/4/2007 às 10h27
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