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Quarta-feira,
2/10/2002
Alerta aos que vão chegar
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"E eu? Eu, que passei quase trinta anos dentro de redações, que fiz de quase tudo em jornais e revistas e depois me bandeei para o outro lado do balcão, inconformado com as mazelas da imprensa? Que digo a ela (minha filha, de 17 anos, que se inscreveu para o vestibular de Comunicação, especialização em Jornalismo)? Que também sonhei muito com palavras que mudassem o mundo para melhor? Que um dia eu li um livro de John Langshaw Austin sobre como fazer coisas com palavras e realmente acreditei que a palavra poderia mudar a realidade?
"Digo que antes de ter meu nome impresso num jornal tive de pisar muita lama, ver muito cadáver e conversar com muita gente desqualificada cheia de poder? Que muitos canalhas usaram minha profissão para melhorar seu patrimônio por vias tortas, que tantos outros a prostituíram para obter vantagens políticas? Que tenho na gaveta um monte de currículos de jovens jornalistas, sem qualquer perspectiva de poder ajudá-los a ingressar na carreira? Que vi muitos talentos se perderem pela falta de oportunidade ou pela desilusão final? Que alguns amigos se suicidaram, outros morreram de câncer e problemas cardíacos, estressados pelas horas excessivas de trabalho nos 'pescoções', pelos baixos salários e pela insegurança? Que algumas empresas impuseram aos seus melhores talentos o jugo de chefes desonestos, incompetentes ou simplesmente insanos? Que ainda hoje há jornalistas trabalhando sem receber salários?"
Circulou alguns dias pelo Toplinks. Intitula-se "Alerta aos que vão chegar", foi publicado pelo Observatório da Imprensa, e é de autoria de Luciano Martins Costa.
Na verdade, é por essas e por outras que eu nunca me senti jornalista. Quase todos os jornalistas que conheci são assim, ressentidos e amargurados. Como os escritores que Cioran encontrou pela vida: vazios ou simplesmente esvaziados pela profissão.
Falta à classe o orgulho de um Paulo Francis, o heroísmo de um Samuel Wainer, o empreendedorismo de um Assis Chateaubriand. Caso contrário, vão sobrar essas lamúrias, chatas e desestimulantes.
Postado por Julio Daio Borges
Em
2/10/2002 às 13h19
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