Não, não é o churrasqueiro do Lula. Pelo nome que o filme recebeu no Brasil, pode-se imaginar tudo, menos que seja bom. Candidato Aloprado (Man of the Year, 2006) aparenta ser mais um grande besteirol digno de "Sessão da Tarde" e a figura de Robin Williams como protagonista ajuda ainda mais a reforçar essas impressões. Ao final do filme percebe-se que o erro está na forma como o filme foi vendido e divulgado no Brasil. Não se trata de uma comédia pastelão e sim de um drama-comédia em uma pesada crítica ao sistema político norte-americano.
Embora não primoroso, o filme agrada no resultado final. O diretor Barry Levinson - que já havia experimentado a crítica política em Mera Coincidência (Wag the Dog, 1997) - desta vez conta a história de Tom Dobbs, um comediante que, devido à sua alta popularidade, se lança como candidato alternativo à presidência dos EUA e vence por obra do acaso. Com avalanches de piadas despejadas em ritmo frenético, a escolha de Robin Williams para o papel principal mostrou-se correta e as atuações de Laura Linney e Christopher Walken (sempre um excelente coadjuvante) ajudam muito. O problema está no roteiro que, embora ágil, possui furos. O mais grave deles é - paradoxalmente - imprescindível para que o filme "aconteça": um estúpido bug no software que faz a contagem dos votos acaba dando a vitória a Dobbs.
Porém, se você não estiver muito exigente, conseguirá passar pelos deslizes do roteiro (também assinado por Levinson) e apreciar a crítica cáustica que o diretor faz ao cenário político. E se engana quem acha que só a política americana se encaixa no contexto do filme. O alvo é o processo eleitoral como um todo: os altos gastos nas campanhas, a hipocrisia dos candidatos, as ligações com lobistas e o jogo de interesses de empresas privadas no jogo político. Nisso, percebe-se que os vícios políticos são universais e o diretor traz à tona todas as mazelas que estamos cansados de saber, mas que insistimos em ignorar. Quem quiser transportar este cenário para um Brasil mais atual sem recorrer a metáforas, basta olhar para Renan Calheiros, com todos os seus lobistas e laranjas. O filme encerra com um emblemático punchline: "Políticos são como fraldas. De tempos em tempos precisamos trocá-las, sempre pelo mesmo motivo".
Diogo, o filme não só retrata o cenário da política mundial, como também põe em evidência aquilo que Aristóteles já escrevia há tantos anos: se a forma corrompida da monarquia é a tirania, da aristocracia, a oligarquia, então a da democracia é justamente o (ele não sabia que termo usar, mas acredito que hoje temos um muito propício:) populismo. E é por aí mesmo. O cara vai ganhar porque tem o melhor marketeiro, porque tem a roupa menos amassada, porque fala mais bonito. E depois que se eleger, ele vai gastar o dinheiro público com uma esteticista, com botox, com plástica, com o quê mais seja. O cenário que nos aguarda não é menos desesperador que este em que vivemos: até mesmo a Gretchen vai se candidatar. Conga, conga, conga para nós!
Pois é Victor, a Gretchen vai se candidatar, mas não fique assustado. O país que já possui Frank Aguiar, Clodovil Hernandes, e outros "artistas-políticos-analfabetos", não pode deixar de eleger ela. E mais: ao som do Melô do Piripipi. A Camâra nunca foi tão agitada. E VIVA a democracia do Brasil!!!