Acabo de terminar a leitura das últimas linhas de Como um romance, de Daniel Pennac. Mesmo correndo o risco de parecer sentimentalista, confesso que as lágrimas ainda estão nos olhos. Fecho o livro e fico com "o sentimento vago de perda", não por ter deixado de ler algo que merece ser lido, mas por saber que tudo acabou: não há mais uma palavra após a página 167.
Pennac se foi. Desaparece no fim da estrada e me deixa só, perdida numa confusão mental que não me permite entender muito bem por que um livro que tenta apenas apresentar um diagnóstico sobre o desinteresse das pessoas pela leitura mexeu tanto com minha emoção. Talvez seja mesmo pelo seu estilo poético, como identifica o editor. Talvez seja pelo fato de que tenha tocado na minha própria ferida; aquela da leitora que não leu tudo o que já deveria ter lido. Talvez também pelo fato de que, embora não seja ainda uma leitora assídua, gosto do que leio, especialmente, do que me cala e me transforma de algum modo.
E é isso: pensando agora, instantaneamente ao momento em que escrevo estas linhas, parece óbvio tudo o que ele disse, especialmente para um adulto letrado, como eu. Mas a verdade é que ele me fez entender um pouco mais da leitora que há em mim e, mais que isso, permitiu-me pensar em perdoar-me pelas falhas que são ou não minhas. "Uma leitura bem levada nos salva de tudo, inclusive de nós mesmos." Saio desse livro mais "humanizada".
Desculpe-me pelo trocadilho, mas Pennac não foi "como um romance": foi como um presente. Obrigada pela indicação!
Da leitora Márcia Araújo Lima, sob o impacto da leitura de um clássico francês, por e-mail.
Há um video no YouTube que diz: "Ler devia ser proibido". E a última frase do narrador do texto, dentro do video, diz: "Cuidado, ler torna as pessoas perigosamente... mais humanas". Concordo com a Márcia, e também no ponto em que ela diz sentir aquele vazio ao final de um livro. Raramente leio romances, mas "aquele Orwell" sempre faz eu me sentir vazia, após o término. E pelo motivo que eu comecei esse comentário: ele me tornou mais humana. Seja lá o que pode ser considerado "humano"... Mas eu já deixei de questionar o magnífico sistema. E gosto do vazio, sinceramente.
Marcia, as suas palavras a respeito do livro de Pennac, já me deixaram com a obrigação de comprá-lo e lê-lo, antes que o sentimento de não ter lido tudo que deveria ter lido, tome conta de mim depois. Já estou encomendando. Muito obrigado.
Também aceito a indicação do livro, já já ele chega em casa! Estou tão ansiosa! Adoro as suas crônicas e vindo da sua indicação deve ser no mínimo bom! Obrigada!