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Terça-feira,
19/11/2002
Felicidade
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Eu diria que a imposição de racionalidade hoje é maior que a da época vitoriana, como se pode ver na exigência de que você administre seu tempo sem parar, que o use para fazer tudo. Veja as pressões no trabalho, além do risco do desemprego. E o politicamente correto. E a vigilância. Há até algumas expressões em inglês que foram criadas para descrever isso, como hurrysickness (doença da pressa) e timefamine (fome de tempo). Você não tem tempo para nada e precisa aparentar sempre que é bom pai, bom marido, bom profissional, bon vivant, etc. As mulheres de hoje têm consciência de que são muito mais livres do que suas avós eram, mas não se sentem mais felizes.
Não se pode negar que nossa época é marcada por um calculismo auto-interessado, em que tudo é reduzido ao custo-benefício, tudo é instrumentalizado. A amizade é qualificada em termos de vantagem, o amor em termos de sexo, a religião em termos de conquista do paraíso. Isso dificulta as relações afetivas espontâneas, dificulta o sentimento de felicidade. Gera um atomismo social que na verdade é contraproducente, pois o tempo de mudança do psíquico é diferente do econômico. Veja a tecnologia da informação, que produz muito mais dados do que o cérebro pode processar. Estamos ficando, como já se disse, "obesos de informação e famintos de sentido". As pessoas estão numa situação de perplexidade. Há um desapontamento com as promessas do mundo competitivo.
Marx e todos os economistas clássicos pensaram em como libertar o homem da escravidão do dinheiro. Mas hoje sabemos que não é acumulando dinheiro. É como na saúde: quanto mais saudável você está, mais obcecado fica com a saúde.
Eduardo Giannetti, em entrevista ao Estadão
Postado por Julio Daio Borges
Em
19/11/2002 às 10h11
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