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Terça-feira,
12/5/2009
Eu gosto é do estrago
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A poesia parece atravessar a janela de nosso quarto como balas perdidas de um Kosovo qualquer, e atingí-lo certeiro num orgão vital de sua estrutura. Daqui, vejo o corpo esguio se trincar e rastilhos de caos por todos os lados. Apresso-me na faxina no afã de reconstituí-lo ainda em tempo de pegarmos a primeira sessão de cinema. Mas o que sei é apenas colar-te os cacos e não cingí-los como se deve. Não me sinto sujo de tinta nesses dias. Disse convicto, assim que as palavras se quebraram e viraram pó, embora eu me esforçasse para não apertá-las com força desmedida durante o manuseio. Eu gosto é do estrago. Do boom que elas (as palavras) fazem quando não há ninguém em casa e nenhuma cola que torne possível o que tenho imenso prazer em continuar desconhecendo. Desse modo, caminhamos, os dois, sobre a linha tênue que divide nossa lucidez e nosso teto todos os dias. Por vezes, peço para entrar, em outras, passo na porta em silêncio, sobre ponta de pés. Entendo cada palavra de sua fala metafórica metafísica meteórica, quando sobressaltado, com fogo nos olhos, me desperta de madrugada e me abraça com o pavor de quem acaba de descobrir antes de todo mundo que a vida é mesmo uma película de Buñuel.
nimbo, que, eu acho, linca pra nós.
Postado por Julio Daio Borges
Em
12/5/2009 às 07h54
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