Embora eu tenha passado a manhã no Ambiente Business, os cases eu veria mesmo à tarde, no Ambiente Criação e Inovação, subseção "Inovação e Empreendedorismo Digital", comandada pelo "pequeno grande homem" Luli Radfahrer. Luli é um sujeito tão ativo que, na falta de um roadie, funciona ― já diria Nélson Rodrigues ― como "o roadie de si mesmo". Anotei no meu "pedaço de árvore morta" (definição dele para "papel"): "Luli desmontou o palco para reinar solo". E calçou luvas de boxe. Sim, virou boxeur! "Que empreendedores vocês são?", berrou para os leões da plateia. "Que tipo de empreendedor vocês são, seus ma-ri-cas?", ele poderia dizer, emulando a cena de Nascido para Matar. E nós responderíamos, miando: "Sir, somos empreendedores de internet, sir!" Luli então continuou: "Vocês achavam que empreender, na verdade, era um 'graaande emprego público'... ou trabalhar na Unilever?" "Seus m...!", ele poderia acrescentar. Mas tascou um vídeo do Nizan Guanaes mandando apostar, justamente, no "velho", no "já conhecido" e não inventar absolutamente nada. Vocês já ouviram isso? (Alguém do mainstream media na plateia?) Luli ― depois do Nizan e de um outro publicitário que eu não reconheci (não perco muito tempo com eles) ― disparou finalmente: "Pa-lha-ços!". Achei bastante corajoso da parte dele, mas eu não sei se chamaria de "palhaço" o sujeito que trouxe o Al Gore para o Brasil... Enfim, era chegada a hora de começar. (Calcei, também, minhas luvas de boxe.)
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Se a palestra da manhã, do mesmo Sebrae, tinha sido sonolenta e arrastada, a da tarde, com Vivianne Vilela, funcionou como uma injeção de ânimo. Ela abriu com estatísticas: no Brasil, são mais de 5,5 milhões de médias e pequenas empresas. Portanto: 99% das empresas, do País, são pequenas ― e são responsáveis por 50% de todos os empregos. Somos quase 15 milhões de empreendedores, e o Brasil é o terceiro país que mais empreende no G20. Apesar disso, mais da metade das empresas fecha com idade média de 2 anos. Além dos números, que são sempre importantes, a mensagem da Vivianne era a de que muitos pequenos empreendedores não sabem o que estão fazendo, pois não conhecem administração (embora alguns acertem por instinto). Ela falou da experiência dela, no Brasil inteiro, com microempresários (não confundir com "empreendedores de Twitter"), mas havia uma mensagem subliminar, que ela passou elegantemente: os empreendedores de internet, por mais modernos que sejam, não conhecem administração de empresas, também, e nem sempre sabem o que estão fazendo... Encerrou com algo como: "Nós somos do Sebrae, estamos aqui para atender vocês!" ― e foi ovacionada pela plateia. (Nem o Luli se aguentou, e entrou uivando: "Fe-no-me-nal!".)
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Mário Nogueira ― meu colega de Poli, fui descobrir isso ao longo da palestra ― falou rápido demais. E vai aí a minha crítica a esse formato "TED", que se espalhou pelos eventos de internet ou tecnologia, no Brasil. 15, 20 minutos, para quem fala português ― uma língua prolixa como a nossa, cheia de vogais ―, é muito pouco. Tudo bem, algumas pessoas dão um show em alguns minutos, mas a maioria tropeça e faz uma apresentação que não caberia nem no dobro do tempo. Infelizmente, era o caso do Mário ― que parecia ter uma bela experiência, com programação, em empresas como Pagestacker e Amanaiê, mas que, no ímpeto de percorrer bullet points em segundos, enrolava a língua, se enrolava com os slides e não traduzia ― numa apresentação eficiente ― todo o seu conhecimento. Algum engraçadinho poderia assoprar que, talvez, seja uma "herança politécnica", mas eu não quero entrar, aqui, nesse mérito... Highlights do Mário (que eu consegui pescar apesar de sua loquacidade): "Grandes empresas na internet são grandes produtoras de software"; Be on the Net, BuzzVolume e Spesa (são empresas cujo trabalho ele admira neste momento).
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Já a palestra do Leonardo Naressi, da Direct Performance, sofreu por repetir alguns conceitos da palestra imediatamente anterior ― a do Mário Nogueira ―, talvez inconscientemente; mas também por repisar cases de sucesso, como o do Obama, que saturou um pouco (até porque a lua-de-mel nos EUA acabou, e entramos na "lua de fel" ― a dos desentendimentos e das brigas). Anotei uma única frase, que é de alguém do boo-box: "Programar é grátis, então aprendam!" ― querendo dizer o seguinte: se você reclama porque não é programador, e pode "se dar mal" ao empreender na internet, aprenda, porque os tutoriais estão aí, são grátis e sempre disponíveis para qualquer pessoa. O que é fato: se há algum conhecimento disponível na internet, em todos os níveis de complexidade, esse conhecimento é o da programação. O Luli ― agora não lembro, exatamente, por quê ― voltou com esta outra pérola, no intervalo: "Quem sempre olha pra cima, cai da escada". (Ovos no mainstream, de novo?)
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Não me animou muito, também, a palestra do Horácio Soares, da Acesso Digital. Lembro, apenas, de uma frase boa dele: "Interface não é como carro ― dirigiu um, dirigiu todos" ― cada site tem a sua etc. Por conta disso, lamentei ter saído e perdido o início da palestra do André Monteiro, do Compra3, que me pareceu, num linguajar bem chulo, "matadora". Aqui no Digestivo, fomos abordados pelo Compra3, para fazer uma parceria de e-commerce, mas a pessoa, que me escreveu, não me convenceu. O sistema de remuneração de parceiros era meio confuso e eu não consegui achar uma vantagem que o fizesse mais interessante que o do Submarino, por exemplo. (OK, o do Submarino não é tão interessante assim, mas o Compra3, na época, não me convenceu 100%.) Agora, mudei de opinião. A ideia do rebate é muito, muito boa, e eu espero que ela "pegue" no Brasil (tanto quanto pegou nos Estados Unidos). No final, o sócio do André também subiu ao palco e falou em "empoderamento do consumidor" ("empoderamento" vocês, por favor, substituam por empowerment). Eles me pareceram bastante ambiciosos e eu vislumbrei o Buscapé da próxima década...
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Show foi a palestra do Gilberto Alves Jr., da Amanaiê, que parecia "reger" a plateia com seu chapéu-coco, administrando eficientemente as risadas e os aplausos com uma voz baixa e um gestual econômico. Não falou nenhuma grande novidade, que eu me lembre agora ― mas contou "a história da internet" tão bem quanto o Marcelo Coutinho, de manhã. Eu gostei, particularmente, da "programação visual" da apresentação dele, ou seja: cores, fontes, fundos, e até da animação. Ele abriu falando que a internet começou no embalo da Segunda Grande Guerra, de modo que construíram, justamente, uma "rede descentralizada": "Um rede descentralizada", afirmou Gilberto, "não pode ser destruída". (Se você falar isso para os executivos das grandes gravadoras, eles são capazes de partir pra cima dos militares dos EUA, mesmo que em desvantagem, afinal o P2P e o BitTorrent são apenas um corolário desse princípio...) O Gilberto fez, claro, uma piadinha básica: "O Google Wave não serve pra p... nenhuma!". E a plateia exultou. Para deixar escapar uma frase que me deixou meio preocupado: "Nós não somos artistas, somos máquinas-de-fazer-dinheiro". Terminou ovacionado, quando apresentou o derradeiro slide e emitiu o último som de sua boca ― mas eu fiquei com o "máquinas de fazer dinheiro" na cabeça... Não sei por quê, me lembrou a época da bolha ― e essa impressão não se desfez, apesar de todo o virtuosismo do Gilberto, como entertainer.
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Luli e seus amigos haviam me nocauteado, finalmente. Ainda assisti ao Rafael Kiso, que apresentou um belo case da Embraer, e ao Matias Feldman, do qual me lembro pouco (além do sotaque "portunhol"). Saí, positivamente, impressionado dessa segunda metade do InterCon 2009. Fiquei pensando que, quando comecei, não havia nada desse negócio de "acolher" os empreendedores de internet. Há dez anos, você era considerado lunático se montasse algum site, principalmente depois da explosão da bolha. E a internet foi xingada em prosa e verso, durante anos (tanto que eu acho que muito dos xingamentos de agora, contra os jornais, as gravadoras e os estúdios de cinema, entre tantos outros, têm igualmente um caráter de revanche). Ao mesmo tempo em que me surpreendeu, para bem, essa discussão sobre empreendedorismo na internet brasileira, me preocupou a euforia, e não só na palestra do Gilberto. Tenho visto muita gente, que não é do meio, embarcar no jargão da "Web 2.0", das "mídias sociais", do "Twitter" ― e me parecem ser aqueles que "pulam fora" numa eventual mudança de maré... Não estou falando de ninguém em específico, muito menos só do InterCon 2009. Estou falando de um "ambiente" que vejo evoluir há alguns anos, de 2005 pra cá talvez... Enfim: que os negócios on-line avancem, que o Brasil apresente seus empreendedores para o mundo e que os deuses da internet nos projetam!